Dieta pobre em gorduras = mais derrames, mais doença cardíaca

Semana passada, fiz uma postagem sobre dois grandes estudos recém publicados. O primeiro dizia respeito à vinculação causal do consumo de açúcar com o desenvolvimento de diabetes. O segundo é o que trataremos hoje.

Todas as pessoas medianamente esclarecidas já compreendem, nos dias de hoje, que restringir os carboidratos é importante para a saúde e para a perda de peso (clique aqui para um exemplo de que ainda existem pessoas completamente sem noção). O grande entrave, no entanto, para a adoção de um estilo de vida páleo / low-carb é a dificuldade das pessoas em aceitar que a gordura natural dos alimentos é saudável, e não deve ser evitada.

O artigo em questão, um estudo prospectivo e randomizado, ou seja, o tipo mais convincente que há, foi publicado na prestigiosa revista The New England Journal of Medicine sob o título “Primary prevention of cardiovascular disease with a mediterranean diet” (Prevenção primária de doença cardiovascular com uma dieta mediterrânea).

Trata-se de um artigo importante, mas não pelo motivo que a maior parte da mídia entendeu. Afinal, já é senso comum entre as pessoas que têm alguma noção sobre saúde que uma dieta mediterrânea é saudável. Qual foi, então, a grande importância deste artigo?

Este estudo foi o prego final no caixão das dietas de restrição de gordura.

Vamos recapitular.

1) Em 1953, Ancel Keys publicou um estudo no qual selecionou a dedo 6 países nos quais o consumo de gordura se correlacionava com doença cardíaca. Descobriu-se depois que havia dados para muitos outros países. Hoje sabemos que a correlação é inversa, quanto mais gordura na dieta, menos mortalidade cardiovascular:

Como já comentamos em outras postagens, correlação não é o mesmo que causa e efeito, mas MESMO a correlação aponta no sentido inverso à crença nutricional vigente.

2) Previamente, dois GRANDES estudos prospectivos e randomizados foram conduzidos para tentar demonstrar que a redução de gordura na dieta pudesse ser benéfica: AMBOS falharam completamente. O primeiro foi o MRFIT (Multiple Risk Factor Intervention Trial), que tinha como objetivo testar a hipótese de que a modificação de vários fatores de risco, incluindo adotar uma dieta pobre em gorduras, fosse diminuir a mortalidade. O estudo recrutou 12866 homens considerados de alto risco cardiovascular e os sorteou para dois grupos: um grupo controle (dieta americana padrão) e outro com orientação para cessar o tabagismo, tratar a hipertensão e adotar uma dieta com menos de 8% de gordura, menos de 300mg de colesterol, e aumento das gorduras poliinsaturadas para 10% das calorias. Após 7 anos de seguimento, não houve nenhuma diferença estatisticamente significativa na mortalidade entre os grupos (o grupo controle morreu um pouco MENOS). Os fumantes, quando considerados isoladamente, morreram mais que os não fumantes. Pessoalmente, acho o que explica que o grupo que fumou menos e comeu menos gordura tenha morrido mais é que uma dieta pobre em gorduras e rica em carboidratos foi tão deletéria que contrabalançou os benefícios de parar de fumar e tratar a hipertensão, mas o FATO é que o estudo foi negativo.

O segundo foi o WHI (Women’s Health Initiative) – este estudo incluiu apenas mulheres (o MRFIT tinha apenas homens), e foram 48835 mulheres! Tinha como objetivo avaliar o efeito de uma dieta pobre em gorduras na saúde cardiovascular e na incidência de câncer de mama. As mulheres foram orientadas a consumir menos gordura e mais frutas e vegetais. Depois de 8 anos de seguimento, a insossa dieta sem gordura não teve efeito significante em NENHUM dos desfechos: câncer de mama, todos os cânceres, doença coronariana, conjunto das maiores doenças crônicas ou mortalidade total.

3) Em 2001, foi publicada a metanálise (reunião de vários estudos científicos) definitiva, pela Cochrane Foundation. O resultado? Não há nenhuma diferença na mortalidade entre pessoas que restringiram a gordura na dieta e as que não restringiram. Eis os resultados originais:

A conclusão dos autores não deixa dúvida:

Traduzindo: Há pouco efeito sobre a mortalidade (na verdade, os números mostram que não há nenhum efeito).

Apesar de décadas de esforço e muitos milhares de pessoas estudadas, as evidências dos efeitos da modificação de gorduras na dieta sobre a mortalidade cardiovascular são inconclusivas.

4) Um bom resumo do assunto pode ser lido nesta postagem: Gordura Saturada – Revista Men’s Health

Bem, no que consistiu o estudo do New England? 7500 pessoas sem doença cardíaca prévia, mas com risco aumentado, foram randomizados para uma dieta de baixa gordura, uma dieta mediterrânea com mais gordura na forma de nozes e sementes, e uma dieta mediterrânea com mais gordura na forma de mais azeite de oliva.

O resultado? O estudo teve de ser interrompido prematuramente, pois muito mais pessoas estavam morrendo no grupo “low fat” (de baixa gordura) do que nos outros dois.

Vou repetir, para sedimentar: o estudo foi interrompido antes do fim, com menos de 5 anos de seguimento, pois a dieta de redução de gorduras estava matando cerca de 30% a mais, e foi considerado anti-ético continuar o experimento.

Está chocado? Choque-se um pouco mais então:

As linhas coloridas representam a mortalidade cardiovascular nas dietas mediterrâneas, e a linha preta a mortalidade na dieta recomendada pelos nutricionistas, médicos, governo, amigos e vizinhos – a dieta sem gordura e com mais carboidratos.

Parafraseando Nietzsche: “A dieta de baixa gordura está morta”.

Querem ver a receita para matar? A receita que levou diretamente à divergência das curvas acima, foi a seguinte (este o foi exatamente o panfleto entregue para o grupo low fat no estudo em questão):

Vou traduzir minhas partes preferidas:

 – pão, massa, arroz são parte de uma dieta saudável

 – Compre alimentos low-fat:

  • Pão
  • Cerais
  • Massa
  • Arroz
  • Batatas
  • Frutas
  • Feijões e lentilhas
  • Produtos low fat
  • Remova a pele das aves

Cozinhe com menos gordura:

  • Evite usar azeite, óleo ou molhos com gordura
  • Use o mínimo de azeite possível
  • Use o mínimo de gordura, apenas o necessário para evitar que o alimento grude na frigideira

Remova a gordura:

  • Não use manteiga ou outras gorduras para espalhar sobre os alimentos
  • Remova toda a gordura visível da carne antes mesmo de prepará-la
  • Remova toda a gordura liberada pela carne durante o preparo
  • Esfrie as sopas e remova a gordura sobrenadante antes de aquecê-la novamente

Evite os seguintes alimentos:

  • Óleos
  • Manteiga, banha
  • Laticínios com gordura, nata
  • Carnes gordas, linguiças, bacon
  • Fígado e outros órgãos
  • Alimentos fritos
  • Maionese
  • Nozes, sementes de girassol

Então está aí, sua receita para matar. Se você tem inimigos, imprima o panfleto acima, baseado na famigerada pirâmide alimentar, e lhes dê de presente:

É preciso que o leitor entenda. Este estudo não é um daqueles estudos observacionais, onde pessoas com estilos de vida completamente diferentes adotam dietas diferentes. Este é um estudo RANDOMIZADO, onde as pessoas foram SORTEADAS para cada grupo (todos os grupos têm, portanto, o mesmo número de sedentários, de fumantes, etc). A ÚNICA coisa que diferencia os grupos, foi, de fato, a orientação dietética. Ou seja, um estrago e tanto que a retirada das gorduras e o estímulo aos carboidratos é capaz de fazer em menos de 5 anos. Ah, se a bruxa da Branca de Neve soubesse disso… E ninguém poderia acusá-la, afinal ela apenas estaria seguindo a orientação nutricional vigente!

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