Como fazer low carb em viagem?

Fazer low carb em casa é fácil. Afinal, escolhemos o que compramos no supermercado, e escolhemos o que temos em nossas geladeiras e prateleiras. Mas e quando viajamos? E se for uma viagem para um local estranho?

Bem, pode não ser fácil, mas não é impossível. Basta ter um pouco de imaginação, força de vontade e andar prevenido.

Pois bem, esta postagem será um diário fotográfico de minha ida a San Diego, Califórnia, de onde lhes escrevo (em virtude da participação em um congresso de urologia).

03/05/13 – Sexta.

Bom almoço em casa (picadinho com vegetais, salada, nata com whey de sobremesa) – uma refeição assim assegura muitas horas sem fome, de modo que não há necessidade de se preocupar com o que comer no avião. Avião de Porto Alegre a São Paulo no meio da tarde.

O vôo para os EUA só sai de Guarulhos às 21h. Vou procurar alguma coisa para comer no aeroporto. Olha só o que encontrei (dica do colega Marcelo Bicca):

Olhem bem, o segundo de baixo para cima: um hamburger low carb!! Não é o máximo? Custa absurdamente caro, mas fiz questão de pagar apenas para prestigiar o restaurante “Carl’s Jr.” por esta ideia sensacional. Mas, se não quisesse comer isso, há um buffet no aeroporto onde pode-se comer peixe/frango/carne e salada.

Mas enfim, está aí, um hamburger completo, no qual o pão foi trocado por alface americana – precisa muitos guardanapos…

Ok, uma vez embarcado para um vôo de 9 horas e meia, não há mais solução, certo? Certo? Errado. Primeira regra de quem quer manter uma dieta low carb em viagem: não ficar com fome. Segunda regra: estar sempre preparado. Não embarco em avião sem um suprimento de castanhas, amêndoas ou nozes:

Não precisei das castanhas, pois já havia comido o hamburger low carb. Mas então, veio a janta do avião: salada mista, um pão, manteiga, carne assada, moranga, polenta e pudim. E aí, vamos jogar tudo pro alto e raspar o prato? Não, e o truque é que não estamos quase com fome – é preciso comer tanto das coisas boas que não sobre espaço para as coisas ruins.

Comi a carne assada, as morangas (com a manteiga!), e a salada. Água mineral com gelo para acompanhar.

04/05/13 – Sábado.

Mais de 9 horas depois, pouco antes das 5 da manhã, vem o café da manhã do avião. Eu não durmo em avião, passei a noite assistindo filmes, e estou moído. E eis o café da manhã:

E aí, estamos exaustos, o croissant está quentinho, vamos jogar tudo para o alto e rapar o prato? Não, pois mais uma vez não estamos com fome. Lá pelas 4 da manhã comi um saco de 100g de castanhas de cajú. Assim, comi apenas as frutas, bebi um café com leite e despejei todo o conteúdo do pacotinho de manteiga dentro do meu café, para desespero do americano que está sentado do meu lado (e que já me acha um maluco por fotografar minha comida). A propósito, 3a regra para manter low carb em viagem (e em qualquer outro lugar): os outros que se explodam.

Cheguei em Nova Iorque. Sol nascendo. Noite inteira sem dormir. Fila gigantesca na imigração. Uma hora de pé. Mais incontáveis minutos na fila da segurança para embarcar no próximo vôo, tira o cinto, tira o sapato, aquelas coisas… Em virtude dessa demora toda, morreram meus planos de tomar um café da manhã sentado em algum lugar que tenha um omelete. Tive que embarcar direto. Mas deu tempo de bater esta foto no portão de embarque do aeroporto de Nova Iorque:

Tem um monte de porcarias à venda, mas tem nozes, castanhas e frutas, ou seja, mesmo que você tenha esquecido de trazer de casa, sempre há onde comprar, é só ter boa vontade de procurar.

Vôo interminável para San Diego, saindo do Atlântico e indo até o Pacífico. Estava bem alimentado, zero de fome. Tomei café com um pouco de leite umas 2 ou 3 vezes.

Quase 24 horas depois do início da viagem, chego a San Diego, perto do meio-dia, hora local. Um pouco de fome. Nada decente para comer à vista. Tenho castanhas, mas não estou com vontade de comer castanhas. Resolvo não comer nada – afinal, isso não é difícil para que faz low carb (que diminui a fome) e para quem já teve alguma experiência de jejum intermitente.

Descobri que em qualquer lojinha de conveniência vende-se uma coisa que sempre escuto nos podcasts americanos – “Beef Jerky”, uma carne seca, curada e bem temperada, um misto de bacon com charque, que não precisa refrigerar, e que é uma delícia (esse aí de baixo é com pimenta). 

Tinha pra vender até na loja de souvenires do hotel, junto com os chocolates! A marca que eu achei  tinha açúcar (5g pra cada porção de 30g de Jerky) – mas, enfim, estou sem carro aqui, não posso ir a um supermercado grande para escolher outras marcas – o bom é melhor que o ótimo, vai essa mesma – beef jerky e um copo de café do Starbucks (do tamanho de um balde) para substituir o almoço no centro de convenções.

Janta: Há quase 36 horas sem dormir, não quero ir a restaurantes com os amigos hoje – preciso apenas de um lanche low carb.  Vem aqui a dica: ao menos nos EUA, sempre que você quiser um hamburger sem o pão, basta pedir – “without the bun”. Especialmente no Jack in the Box e Burger King. Pedi o maior cheeseburger de todos, pedi para colocar bacon extra, e pedi “without the bun” – a menina nem piscou, não me olhou diferente nem nada. Olha que legal o resultado:

Já vem num potinho especial para manter o formato de hamburger. Abaixo, o aspecto após eu levantar um pedaço da alface que substitui o pão:

Bem melhor e bem mais barato do que o hamburger low carb do Carl’s de Guarulhos: este aqui custou apenas US$ 4,90.

Voltando para o hotel a pé (este fast food fica a 1 Km do hotel), encontrei um armazém. 95% porcarias industrializadas cheias de carbs, mas mesmo assim foi possível fazer um pequeno rancho para deixar no hotel:

Ovos, presunto, salsichas, beef Jerky. No quarto do hotel tem microondas. Mas e os ovos, não vão explodir? E a regra de estar preparado, já esqueceu? Trouxe junto do Brasil um dispositivo para preparar ovo cozido no microondas em menos de 2 minutos:

Enfim, não se passa fome, e é possível manter o controle nas situações mais adversas sem gastar muito – afinal, não dá para almoçar e jantar todos os dias nas maravilhosas e caríssimas “steakhouses” daqui. Amanhã continuo esta narrativa – vamos ver se consigo fazer isso até a minha volta, sexta que vem. Depois disso, não quero mais saber de gente dizendo que não consegue fazer a dieta… Em casa é TÃO mais fácil…

******* Domingo, 05/04/2013 *********

7:30 da manhã, boa noite de sono.

Café da manhã:

Omelete de 3 ovos recheado com Bacon e coberto com queijo cheddar (cheddar de verdade, não aquelas coisas processadas). As batatas fritas faziam parte do prato.

Estava delicioso – melhor ainda com esta vista:

Como eu já disse em uma postagem prévia, ninguém te obriga a comer alguma coisa apenas por estar no seu prato

Por exemplo:

E sim, eu comi algumas batatinhas. Porque algumas batatinhas não vão te matar – desde que você consiga comer apenas ALGUMAS.

Agora é meio-dia, e ainda estou completamente sem fome depois deste café da manhã. Se achar algo bom para comer no centro de convenções, OK, caso contrário, tenho castanhas e beef jerky aqui comigo, e posso muito bem pular esta refeição.

********

Durante a tarde, comi meus lanches (beef jerky, castanhas).

À noite, janta com os colegas, maravilhoso restaurante:

Uma salada Cesar é sempre uma boa pedida – apenas lembre-se de pedir para que venha sem os croutons (os pãezinhos). Para beber, qualquer restaurante nos EUA tem a opção de Ice Tea – lembre de pedir “unsweetened” (não-adoçado).

Filé com pimenta e molho de bluecheese + vegetais refogados e um cálice de vinho – alguém ainda acha que esta é uma dieta de provações?

******* Segunda, 06/05/13 ********

Fui dormir tarde, tinha que acordar muito cedo – comi no quarto do hotel mesmo, as coisas que havia comprado no outro dia:

Isso foi às 7h da manhã. Chegando no Centro de Convenções, tomei um café da Starbucks que deve ter quase meio litro. São 11h e nem sei o que é fome.

Hoje há dois eventos com comida de graça, um no almoço e outro na janta – será este o momento que capitularemos perante os carboidratos e o glúten? Haverá opções? Aguarde os próximos capítulos…

*********

O almoço grátis era uma porcaria, uma caixa com 2 sanduíches enormes, um saco de batatas fritas, um potinho de massa e um biscoito com pedaços de chocolate, além de uma coca diet. Bem, fazer o quê, era grátis…

E agora, quê fazer?

Simples, é só comer o recheio (peito de peru, queijo e alface):

Ok, deu uma vontade enorme de comer uma sobremesa. Bolos, doces e biscoitos estão em todo o lugar, mas não vejo nenhuma fruta nos arredores. Decidi então dar uma caminhada, e achei um lugar promissor:

Promoção: leve 5 chocolates e pague 4:

1 copo de leite tem mais açúcar do que uma barra inteira deste chocolate. E o sabor… sensacional. 

A janta foi uma agradável surpresa: só de olhar o salão, já era possível saber que tratava-se de coisa boa:

Observem que há uma pilha de pãezinhos no buffet, com uma pirâmide de bolinhas de manteiga ao lado:

Felizmente, os pães não se movem sozinhos, de modo que não há risco de pararem no seu prato inadvertidamente.

Havia ainda uma opção de talharim ao funghi. Mas, como sempre, havia muitas outras opções. Olhem, por exemplo, esta salada: não parece uma pintura?

1o prato que servi:

Segundo prato (que casou muito bem com o vinho tinto da Califórnia):

A propósito, repararam que até agora não comi nenhuma proteína nesta refeição? Eu já disse MIL vezes, mas não custa repetir: uma dieta páleo NÃO é uma “dieta da proteína”, é simplesmente uma dieta da qual foram retirados os carboidratos processados e grãos. Uma verdadeira dieta páleo tem MAIS vegetais do que a dieta ocidental habitual.

Por fim, o prato principal: lombinho de porco com molho de pera e filé com molho de cogumelos:

Realmente, um sofrimento esta comida dietética, não é mesmo??

De sobremesa, 2 quadradinho do chocolate 86% cacau – e vou dormir feliz.

Um último pensamento para fechar este dia 06/05/13: observem, do início desta postagem até agora, que é possível manter-se na linha com orçamento baixo e orçamento alto, em situações informais e situações sociais formais, em terra e no ar, enfim, BASTA QUERER.

07/05/13

Café da manhã – frios e ovos no quarto do hotel, como ontem.

Vou aproveitar para responder aqui o questionamento de uma leitora, pois acho relevante para todos.

A leitora Marcela pergunta:

Doutor, gostei muito do seu relato, excelente para nos esclarecer mais, mas fiquei com algumas dúvidas:

1- A maioria das castanhas, nozes e congêneres são torradas com óleo vegetal, pode-se consumi-las ainda assim?

2- Sempre li que vinho contém carboidratos e, além disso, nossos ancestrais paleolíticos consumiam vinho? O vinho não seria uma invenção mais recente? Eu achava que sim.

3- Outra dúvida se refere a salsichas, linguiças, embutidos e afins, com certeza isso não existia no paleolítico, não?


Eu não sei se ficou claro, mas aparentemente não. Esta postagem não tem como objetivo relatar o que seria uma dieta ideal. O objetivo aqui é mostrar a vida como ela é, no mundo real, em uma viagem internacional na qual a)não estamos em nossa casa  b)não estamos em nosso país  c) participamos de eventos sociais em que há comida.

Assim, vou responder as questões uma a uma dentro desta perspectiva:

1) Sim, estas castanhas são torradas em óleo vegetal. Mas quando a alternativa são pães, biscoitos e bagels, isso torna-se irrelevante, pois a castanha mais industrializada é MUITO melhor do que o pão mais integral;

2) O vinho tinto seco tem alto grau de fermentação. Isso significa que as bactérias já transformaram quase todo o açúcar em álcool. De fato, 100 ml de vinho tinto seco contém 2g de açúcar, ou seja, nada (http://nutritiondata.self.com/facts/beverages/3847/2). É evidente que não havia vinho no paleolítico. Também não havia aviões, o que tornaria minha vinda à Califórnia mais difícil. Também não havia bananas, maçãs, alface, cenouras – essencialmente NADA do que comemos hoje existia no paleolítico. “Paleo” é um modelo, uma ideia geral no sentido de tentar emular no mundo moderno aqueles aspectos do estilo de vida com o qual evoluímos a fim de melhorar nossa saúde e bem estar. Seria tolice tentar viver exatamente como nossos antepassados. Quem me conhece sabe que eu praticamente não bebo, e isso sempre foi assim, desde muito antes de tomar conhecimento a respeito de dieta páleo ou low carb. Mas com certeza é melhor beber 1 cálice de um bom vinho tinto seco do que uma coca-cola.

3) evidentemente embutidos não existiam no paleolítico, mas o que eu deveria comer então, uma vez que eu tinha que sair do hotel antes da hora em que o café da manhã abria? Bagels? Doughnuts? Barras de cereal? Muffins? Entenda que é necessário fazer o possível com a aquilo que se dispõe, dentro das circunstâncias.

Eu já escrevi 1000 vezes isso neste blog, mas não custa repetir: o ótimo não pode ser o inimigo do bom. A busca da perfeição em um estilo de vida low carb / páleo está fadada ao fracasso (além de gerar stress, o que também não é bom). E a reação das pessoas ao “fracasso” é a frustração, que frequentemente é seguida de “vou jogar tudo pro ar e me esbaldar”. É incrível, mas é assim que a psicologia humana tende a funcionar. Não consegui comer um filé de gado alimentado com pasto e verduras orgânicas? Então azar, vou comer uma pizza com massa Pan no Pizza Hut. Não consegui achar castanhas orgânicas assadas em manteiga de cacau? Então azar, vou comer uma rapadura.

O mundo não é preto e branco – há tons de cinza (50?). Uma carne de fast food aqui nos EUA, mesmo que eu saiba que vem de animais alimentados com grãos, é muito melhor do que uma pizza. Uma castanha Royale com um pouco de óleo de soja é muito melhor do que qualquer coisa que eu vá encontrar no centro de convenções ou dentro de um avião.

Ok, com isso em mente, vamos ao almoço de hoje, no qual os princípios acima foram colocados em prática. Afinal, eu estava com um grupo de amigos, e não podia ser o chato que iria dizer “aqui não posso comer”. Fomos a um restaurante mexicano.

Entrada: 

Estes nachos são feitos de milho. Não são low carb, mas também não são de trigo (eu perguntei para ter certeza – menti para o garçom e disse que eu era celíaco). Como disse acima, não é necessário ser perfeito o tempo todo. Comi umas 4 ou 5 delas com os molhos.

Prato principal:

E agora? Simples, comi os tacos com carne, queijo e salada, incluindo as tortillas (feitas de milho, sem glúten). Experimentei um pouco do feijão, mas deixei o feijão e arroz no prato. Esta refeição inteira deve tido uns 50g de carbs, pelos meus cálculos. Mesmo que fossem 100g, ainda seriam muito menos do que a típica refeição americana. Como disse acima, o ótimo não pode ser o inimigo do bom, e devemos fazer o possível dentro do que as circunstâncias permitem. Diga-se de passagem, a comida estava ótima.

****** Dias 8 e 9 de maio

Final de viagem, andei comendo (muito bem) em um restaurante argentino, e esqueci de documentar.

Mais algumas fotos ilustrativas – janta de ontem:

Água na boca, hein? A foto acima foi no OutBack. Em Porto Alegre, este restaurante é muito caro. Mas nos EUA, o filé acima mais uma salada (que eu não fotografei) com bluecheese e nozes pecan (inimaginavelmente boa) custou 15 dólares! Um pouco mais do que se gastaria para comer lixo no McDonalds.

Almoço de hoje: uma salada Caesar com queijo frito em cima – e o onipresente chá gelado (que TODOS os restaurantes têm).

Está aí um prato para convencer crianças a comer brócolis – parece um desenho, não é mesmo?

Ah, sim, e um lembrete importante: as batatas e pães não se agarram aos seu talheres se você não deixar:

Escrevo do aeroporto em San Diego, e aproveito para encerrar esta longa e biográfica postagem. Nas próximas 24 horas vocês já sabem (basta voltar ao início da postagem): castanhas e chocolate amargo na bagagem de mão, aproveitar o pouco que dá da comida que vem no avião, e café. É possível comer bem e SEM CULPA até mesmo nas situações mais adversas. Por que não em casa, onde é bem mais fácil? Pense nisso.

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