Se você ainda duvida que carboidratos viciam

***** ATUALIZAÇÃO ******

Vá até o final deste artigo, para 2 novos adendos importantes (em inglês)

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Já postei previamente uma bela reportagem afirmando que os carboidratos viciam mais do que a cocaína. Muitos de vocês podem achar que isso é uma afirmação extrema. Pois bem, vejam então o artigo que se segue.

Para a leitura do artigo, é importante alguns esclarecimentos:

  • Binge eating disorder – a tradução livre para o português seria de “transtorno de consumo alimentar compulsivo periódico”, ou então  “crises de compulsão alimentar”.
  • Naloxona: é uma droga antagonista dos opioides. Opioides são substâncias derivadas ou farmacologicamente semelhantes ao ópio, tais como morfina, heroína, etc. Em vítimas de overdose de opioides, a naloxona é empregada como antídoto;
  • Já escrevi previamente que o trigo, ao ser digerido, libera exorfinas, substâncias com propriedades opioides (portanto viciantes), que estimulam o centro do prazer da mesma forma que as drogas;
  • O vício envolvendo o consumo de carboidratos e reversível com naloxona é específico para carboidratos, e não é observado com gordura (veja aqui);
  • A naloxona inibe o desejo compulsivo de ratos por porcarias (obtidas na cafeteria do hospital!!), mas não diminui a fome por sua ração normal (veja aqui);

Com estas informações em mente, leia o artigo abaixo (minha tradução – o original pode ser conferido aqui: http://www.medscape.com/viewarticle/805004):

Spray nasal mostra-se promissor no tratamento das crises de compulsão alimentar

Por Caroline Cassels

30 de maio, 2013

SAN FRANCISCO – uma nova formulação experimental da naloxona na forma de spray nasal mostrou-se promissora para o tratamento de binge eating disorder (“transtorno de consumo alimentar compulsivo” – TCAC), uma pesquisa preliminar sugere.

Resultados de um estudo clínico randomizado, duplo-cego, de fase II, apresentado aqui no Congresso Americano de Psiquiatria de 2013 mostrou que o spray intranasal de naloxona produziu uma redução maior no tempo gasto pelas pessoas comendo compulsivamente do que um spray placebo (p=0.024).

“Estes achados são encorajadores e, se isto realmente for confirmado, será um grande avanço [no tratamento do TCAC]. Mas este é o primeiro estudo, por isso é muito cedo para dizer. Mas pode ser uma coisa muito boa”, disse Hannu Alho, M.D., PhD, da universidade de Helsinki, Finlândia, e um dos autores do estudo.

Caracterizados por apresentarem episódios recorrentes de consumo alimentar compulsivo, pacientes com TCAC sentem uma falta de controle sobre sua alimentação. Diferentemente da bulimia, o consumo não é seguido de vômitos, exercício excessivo ou jejum e, como resultado, indivíduos com TCAC são frequentemente obesos. De acordo com o Instituto Nacional de Doença Mental, a prevalência deste transtorno em adultos é de cerca de 2,8% nos EUA.

Um antagonista opioide, a naloxona, é atualmente aprovada pelo FDA para reverter os efeitos do envenenamento por opioides (heroína, por exemplo) e é administrada por via injetável.

Outros antagonistas opioides, tais como naltrexona e nalmefeno, já provaram-se eficazes no tratamento da dependência ao álcool, reduzindo a frequência do consumo de álcool assim como as taxas de recidiva do alcoolismo.

Embora o FDA recomende que estas medicações sejam empregadas apenas durante a abstinência alcoólica, David Sinclair, M.D., o investigador principal do presente estudo, empregou-as com sucesso no tratamento da dependência alcoólica fazendo com que os pacientes as usassem imediatamente antes de beber, para diminuir o desejo intenso pelo álcool e, com o tempo, o consumo.

Dr. Hannu Alho

O Dr. Alho explicou que este processo, conhecido como “extinção farmacológica”, foi originalmente desenvolvido pelo Dr. Sinclair na Universidade de Helsinki nos anos 1990 e funciona pelo bloqueio das endorfinas que ativam o sistema opioide no cérebro e reforçam os comportamentos relacionados a vícios.

Em cima deste princípio, os investigadores quiseram determinar se o spray intranasal de naloxona poderia reduzir o consumo compulsivo de comida por pacientes com TCAC.

Ação Rápida

O estudo de 24 semanas de duração incluiu 127 adultos que preenchiam os critérios para transtorno de consumo alimentar compulsivo (TCAC) do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, quarta edição (DSM-IV). A maioria dos pacientes eram mulheres na faixa entre 30 e 50 anos. Eles foram recrutados através de um anúncio em um revista local. Com um índice de massa corporal (IMC) médio de 32, a maioria era obesa ou severamente obesa.

Ao contrário dos desejos por álcool, que podem ser constantes, os desejos compulsivos por comida têm um início súbito. O spray intranasal de naloxona age em questão de minutos, tendo como alvo seletivo a extinção com comportamento compulsivo prejudicial, dizem os investigadores.

Além disso, a naloxona exerce seus efeitos por duas horas, que é a duração típica de um ataque de compulsão alimentar, eles acrescentam.

Os participantes foram instruídos a carregar o spray junto de si e a administrá-lo (até um máximo de 4mg ao dia) antes de perder o controle.

Os desfechos primários do estudo eram o número médio de minutos despendidos comendo de forma compulsiva e o escore médio na escala padrão de transtorno de consumo alimentar compulsivo.

81% dos participantes completaram o estudo. Não houve diferença estatisticamente significativa no número de desistências entre os dois grupos, e não houve efeitos adversos graves.

Comparado com o período antes do estudo, houve uma redução de 75% no tempo gasto comendo compulsivamente no grupo naloxona (125 minutos) versus uma redução de 65% (84 minutos) no grupo placebo.

Além disso, os pacientes usando naloxona experimentaram uma redução pequena mas estatisticamente significativa no IMC entre as semanas 12 e 24 do estudo (p=0,015), bem como no percentual de gordura corporal (p=0,004).

O forte efeito placebo foi típico, e era esperado para esta população de pacientes, disse o Dr. Alho. Ele especulou que a diferença de resultado entre os 2 grupos poderia ser maior, caso o estudo durasse mais tempo.

Hipótese Interessante

Comentando o estudo para o Medscape Medical News, Evelyn Attia, M.D., diretora do Centro de Distúrbios Alimentares no Hospital Presbiteriano de Nova Iorque, disse que o estudo apresenta uma ideia intrigante.

Dr. Evelyn Attia

“A ideia de que possa haver algumas propriedades relacionadas a vício associadas aos episódios de comer compulsivamente é interessante, e a questão de que algo que bloqueie nossos receptores opioides possa mudar a experiência ou o desejo de se engajar neste comportamento é certamente uma hipótese interessante”, disse a Dra. Attia.

Ela observou que os resultados foram “mistos” e que embora os achados sugiram que possa haver a habilidade de limitar o tempo gasto em comportamento alimentar compulsivo, “tudo que o estudo realmente nos diz neste momento é que talvez haja alguma evidência que possa justificar estudos adicionais”, ela disse.

Fazendo eco ao Dr. Alho, a Dra. Attia também observou que o efeito placebo “muito pronunciado” observado no estudo é típico desta população de pacientes.

A Dra. Attia disse ainda que estudos maiores e não patrocinados pela indústria farmacêutica, que examinassem a frequência dos ataques de compulsão alimentar além do tempo que os pacientes passam comendo compulsivamente, seriam úteis.

“A duração [de um episódio de crise de compulsão alimentar] é mais difícil de avaliar e pode não ser tão importante para o indivíduo afetado quanto a ocorrência ou não de um episódio”, disse ela.

O estudo foi patrocinado por Lightlake Therapeutics Inc. Os Drs. Alho e Attia não relataram conflitos de interesse de ordem financeira.

The American Psychiatric Association’s 2013 Annual Meeting. Abstract NR4-29. Presented May 19, 2012.

Medscape Medical News © 2013  WebMD, LLC

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Cite this article: Nasal Spray Shows Promise for Binge Eating Disorder. Medscape. May 30, 2013.

Comentários:

  • Não resta dúvida de que há um componente de vício associado ao sobreconsumo de comida
  • Dentre os macronutrientes (proteínas, gorduras e carboidratos), apenas os carboidratos têm real potencial de abuso.
    • Para confirmar isso, basta imaginar os seguintes cenários:
      • Você se imagina consumindo manteiga sem controle (gordura)?
      • Você se imagina consumindo clara de ovo sem controle (proteína)?
      • Você se imagina consumindo pão doce, sonhos, doce de leite, rapadura, brigadeiros, pão francês recém saído do forno, mil folhas, rabanada, pipoca, sorvete com calda, torta de maça, torta nega maluca sem controle?








  • A gordura associada ao açúcar (uma combinação diabólica, criada pelo homem, e que não existe na natureza) é também altamente viciante.
  • Citei acima um estudo no qual o bloqueio opioide inibiu, em ratos, apenas o consumo das comidas servidas aos seres humanos na cafeteria do hospital onde o estudo foi conduzido. O uso da mesma medicação não interferiu no consumo da ração normal dos ratos.

CONCLUSÃO: assim como em ratos, o comportamento compulsivo só surge quando se lhes dá uma alimentação rica em açúcar ou em gordura com açúcar. O mesmo se dá com as pessoas.

A grande solução para o transtorno de consumo alimentar compulsivo periódico não é bloquear os receptores opioides no cérebro. Isto é apenas um paliativo. A solução é não produzir a estimulação destes receptores com alimentos viciantes. Você não precisa de um remédio que bloqueie os malefícios do cigarro; você precisa é parar de fumar!!

Assim como os ratos não apresentam consumo alimentar compulsivo com sua ração habitual, o mesmo ocorre com os seres humanos. E qual deveria ser a “ração habitual” dos seres humanos? Aquela com a qual evoluímos. COMIDA DE VERDADE.

*********** ATUALIZAÇÃO **************

Sensacional podcast de Jonathan Bailor com Vera Tarman, especialista em vício, sobre o poder viciantes dos carboidratos: http://thesmarterscienceofslim.com/tarman/

Quando finalmente a mídia começa a falar a mesma língua, é motivo de comemoração. Vejam:

 

 

Refined Carbs May Trigger Food Addiction

Kathleen Louden

Jul 02, 2013

Consumption of a meal that has a high glycemic index (GI) appears to stimulate key brain regions related to craving and reward, a finding that supports the controversial hypothesis of food addiction, new research suggests.

Investigators from Boston Children’s Hospital in Massachusetts found that compared with consumption of a low-GI meal, a meal high in refined carbohydrates decreased plasma glucose, increased hunger, and selectively stimulated brain regions 4 hours after eating — a critical time point that influences eating behavior at the next meal.

“We think we have shown for the first time that refined carbohydrates’ biological effects can provoke, independent of calories and tastiness, symptoms related to addiction in susceptible people — those who are overweight or obese,” said the study’s principal investigator, David Ludwig, MD, from Boston Children’s Hospital.

Dr. Ludwig, director of the hospital’s New Balance Foundation Obesity Prevention Center, told Medscape Medical News that his team’s preliminary findings support “the notion of food addiction [which] is very controversial because, unlike drugs of addiction, we have to eat to survive.”

Craving Carbs

He said the randomized, blinded, crossover study in 12 overweight or obese men had several strengths over previous studies whose findings also suggested that certain tasty foods might be addictive.

“Prior studies, best described as observational, tended to compare vastly different foods, such as cheesecake and boiled vegetables,” he said.

In the new study, participants aged 18 to 35 years consumed, in a randomized order on test days 2 to 8 weeks apart, 2 test milkshakes that had similar ingredients, calories (500 kcal), appearance, taste, and smell.

Participants were not aware which was the low-GI meal (37%) with slow-acting carbohydrate and which was the high-GI meal (84%) with fast-acting carbohydrate, and they reported no preference for either meal.

Additionally, the investigators monitored participants 4 hours after the meal, when the individuals likely would be considering what to eat at their next meal. At that time, participants underwent a final blood glucose test and neuroimaging, and rated their hunger levels.

After eating the high-GI meal, participants initially had a surge in blood glucose level that was 2.4-fold higher than after the low-GI meal, followed by a crash in blood glucose at 4 hours, the authors reported. They also reported excessive hunger 4 hours after the high-GI meal, Dr. Ludwig said.

Table. Effect of Low- vs High-Glycemic Index Meal on Patient Outcomes 4 Hours Later (n = 12)

Outcome (mean ± standard error)Low Glycemic IndexHigh Glycemic IndexP-Value
Hunger rating, change from baseline, cm-0.01 ± 0.921.65 ± 0.79.04
Venous plasma blood glucose, mmol/L5.30 ± 0.164.70 ± 0.14.005

The investigators looked directly at participants’ cerebral blood flow, as a measure of resting brain activity, using arterial spin labeling functional magnetic resonance imaging (fMRI), which allowed them to examine persistent effects of test meals.

Results showed an 8.2% relative difference in cerebral blood flow between the high- and low-GI meals at 4 hours (mean difference, 4.4 ± 0.56 mL ∙ 100 g−1 ∙ min−1).

After correction for the prespecified anatomic regions of interest, Dr. Ludwig said that the difference was strongly significant (P = .0006), with “less than 1 in 1000 likelihood that the results were due to chance.”

“Every single subject showed intense activation in the nucleus accumbens, the area of the brain related to addiction,” he said.

The results show that highly processed carbohydrates, such as white bread, potatoes, and concentrated sugar, “alter brain activity in ways that make us crave them even more,” he said.

Clear Take-Home Message

Dr. Ludwig stated that the study must be repeated in larger numbers of persons, in a more diverse population, and before and after weight gain. Yet he said that the initial results send a clear take-home message: “Avoiding highly processed carbohydrates could help overweight people avoid overeating.”

Mark Gold, MD, a longtime researcher in the area of food and addiction, from the McKnight Brain Institute of the University of Florida (UF), Gainesville, said it is important that clinical research tests the food addiction hypothesis first generated by laboratory researchers.

Asked by Medscape Medical News to comment on the findings, Dr. Gold, who was not involved with the study, said that the brain imaging test the researchers used “is exceptional and provides additional strong evidence that manufactured foods, sugar, and fats can interact with the brain and systems that [also] are hijacked by drugs of abuse.”

“Hedonic overeating…makes more sense with clinical research like this,” Dr. Gold, who is professor and chair of psychiatry at UF College of Medicine, concluded.

This study was funded by the National Institutes of Health and the National Center for Research Resources, Bethesda, Maryland; the Pediatric Endocrine Society, McLean, Virginia; the Endocrine Fellows Foundation, Washington, DC; and the New Balance Foundation, Boston, Massachusetts. Dr. Ludwig and Dr. Gold have reported no relevant financial relationships.

Am J Clin Nutr. Published online June 26, 2013. Abstract

 

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Cite this article: Refined Carbs May Trigger Food Addiction. Medscape. Jul 02, 2013.

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