Camundongos com pouca insulina simplesmente não conseguem engordar

Quando li o artigo abaixo, tive que sorrir. Tive que sorrir por causa da surpresa de seus autores com seus próprios resultados; um resultado que deveria ser óbvio para qualquer um que já estudou fisiologia ou bioquímica nos últimos 50 anos.

http://www.medicalnewstoday.com/articles/253713.php

Altos Níveis de Insulina Podem Levar à Obesidade

Data: 06/12/2012

Uma descoberta inesperada mostrou que crenças disseminadas sobre hábitos saudáveis de alimentação podem ser falsos, e em verdade podem fazer com que as pessoas engordem

O achado veio de um pesquisador da University of British Columbia e foi publicado na revista Cell Metabolism.

O estudo começou com o objetivo de estudar a insulina, que é o hormônio empregado pelo corpo para estocar o açúcar, de modo a poder usá-lo mais tarde como fonte de energia. Uma falta de insulina causa o diabetes tipo 1 e, de acordo com outro estudo publicado no mesmo periódico, uma atividade cerebral prejudicada da insulina pode ser causa de lipólise excessiva que piora o diabetes tipo 2.

Depois de analisar o papel da insulina em animais, James Johnson, um professor associado de ciências celulares e fisiologia, descobriu que insulina demais pode ser ruim.

Johnson separou os camundongos em dois grupos, e alimentou ambos com uma dieta de alta gordura (nota do tradutor: gordura essa obtida de óleos de sementes o que leva à inflamação e resistência à insulina em roedores – e uma dieta com carboidratos também, além da gordura). Um grupo, o grupo controle, consistiu de camundongos normais e o outro consistiu em camundongos que foram modificados para produzir  apenas metade da quantidade normal de insulina.

Os resultados mostraram que os camundongos normais ficaram com sobrepeso, como se imaginava. Entretanto, os camundongos que tinham baixos níveis de insulina não engordavam devido ao fato de que suas células gordurosas queimavam mais energia e armazenavam menos. Os camundongos que permaneceram magros tinham menos edema e seus fígados estavam mais saudáveis.

Isto significava, de acordo com Johnson, que a obesidade era resultante da insulina excessiva que era produzida pelos camundongos normais expostos à dieta de alta gordura (nota do tradutor: gordura essa obtida de óleos de sementes o que leva à inflamação e resistência à insulina em roedores – e uma dieta com carboidratos também, além da gordura). Em outras palavras, camundongos, assim como humanos, podem produzir mais insulina do que o necessário.

A pesquisa indica que as pessoas podem manter um peso saudável ao constantemente trazer os níveis de insulina para um mínimo saudável. Isto pode ser feito aumentando o intervalo entre as refeições, eliminando lanches, sem comer demais na hora das refeições (nota do tradutor: esqueceram apenas de citar o método mais óbvio de todos para reduzir a secreção de insulina – restringir carboidratos!).



A crença generalizada de que as pessoas deveriam comer pequenas quantidades de comida durante todo o dia para manter-se magras demonstrou-se ineficaz neste estudo.

Johnson concluiu:

“Embora a insulina seja crucial para regular o açúcar no sangue, o excesso de uma coisa boa pode acabar sendo ruim. Se pudéssemos manter a insulina em um valor ideal, poderíamos reverter a epidemia de obesidade que é um fator de risco para tantos outros problemas – diabetes, doença cardíaca e câncer”.

A surpreendente relação entre insulina e obesidade



Considerando-se que Johnson, um membro do Instituto de Ciências da Vida da UBC, não conduziu esta pesquisa para examinar obesidade, ele ficou um tanto surpreso pelo que encontrou. Originalmente, ele queria determinar se as células beta do pâncreas – que produzem insulina – seriam encorajadas a aumentar pela sua própria secreção de insulina.

Ambas descobertas de Johnson foram não-antecipadas:

 – camundongos com baixa insulina eram incapazes de engordar

 – a maioria destes camundongos, mesmo com níveis significativamente reduzidos de insulina, não desenvolveram diabetes.

De acordo com dados de altura e peso de 2007 a 2009, 1 em cada 4 canadenses luta contra a obesidade. As taxas de obesidade dobraram entre 1981 e 2007-2009.

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O grau de bloqueio mental que tomou conta da mente dos médicos, nutricionistas e pesquisadores no que tange ao controle metabólico da obesidade é algo sem paralelo em toda a pesquisa biomédica.

 Se os pesquisadores produzissem camundongos com pouco hormônio do crescimento, eles seriam camundongos-anões, e isso seria óbvio, e não uma surpresa!! Mas o fato de que camundongos que secretassem menos insulina não engordariam TAMBÉM É ÓBVIO!! Por que então foi recebido como uma surpresa? Porque, quando se fala de obesidade, o paradigma vigente de que trata-se apenas de um problema de balanço calórico é capaz de cegar os pesquisadores mais eminentes para questões de bioquímica absolutamente BÁSICAS – no caso, o fato de que a insulina é o principal hormônio que atua favorecendo a lipogênese.

Quem leu Good Calories, Bad Calories
sabe que, até meados do século passado, o papel fundamental da insulina para o ganho de peso era conhecimento corrente de TODOS os médicos.

Há 42 anos, em 1972, este que vos escreve estava com apenas 1 ano de idade, e o Dr. Atkins já escrevia: Nos últimos dez a quinze anos, a origem do distúrbio metabólico da obesidade foi bem esclarecida pelos cientistas. A causa nada tem a ver com o metabolismo da gordura que você ingere, mas com o hiperinsulinismo e a resistência à insulina. O hormônio insulina e o efeito que o mesmo produz sobre seus níveis de açúcar no sangue (que sobem e descem constantemente como resposta ao alimento que você come) relacionam-se muito mais diretamente com seu estado geral de saúde e com a probabilidade de você ser vitimada por assassinos tais como ataque cardíaco e derrame cerebral do que se suspeitava no passado. E é também o determinante isolado mais importante de seu peso. Este é o motivo por que, na quinta década de vida, 85% de diabéticos do Tipo II são obesos. Esse defeito metabólico ligado à insulina pode ser evitado mediante restrição à ingestão de carboidratos.”


Ou seja, a grande DESCOBERTA dos autores do estudo acima, já estava no livro do Dr. Atkins 40 anos atrás!!

É incrível mesmo. Todos nós, médicos, já estudamos bioquímica. Fui olhar no meu livro de bioquímica, e o livro não deixa nenhuma dúvida; está lá, na página no. 821:

Este livro é de 2008. Acham muito novo??

Quem sabe este aqui:

É de 1975, e era o livro adotado lá na UFRGS quando eu estudei (embora a minha fosse uma edição mais “moderna”, dos anos 1980).

E vejam – SURPRESA!! – em 1975 já se sabia que a gordura era fabricada a partir de glicose sob o efeito da insulina! Uau!

Lutamos aqui contra um paradigma tão forte e tão arraigado – o paradigma do balanço calórico – que é capaz de apagar das mentes mais brilhantes, como a do Dr. Johnson, da University of British Columbia, fatos que ele já estudou quando era mais jovem – o controle hormonal do tecido adiposo. Repito – o que ele “descobriu”, produzindo manchetes pelo mundo em 2012 – é algo trivial e que já pega poeira em páginas amareladas de livros há décadas. Que reduzir a insulina é a chave para controlar o peso.Um dia, no futuro, nossos descendentes ainda hão de se referir à nossa era como a grande idade das trevas da ciência da nutrição. E se perguntarão “como é possível que essa gente não se desse conta de algo tão óbvio?”. E nos compararão às pessoas que se recusavam a acreditar que a terra era redonda.

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