Susan Zontag escreveu, em 1978, um ensaio denominado “A Doença Como Metáfora”. Neste texto, a autora discute câncer, tuberculose e a mentalidade de “culpar a vítima” que acompanhava estas condições em diferentes épocas. É neste contexto que ela escreve: “Teorias de que doenças são causadas por um estado mental, e que podem ser curadas apenas pela força de vontade, são sempre um índice do quanto ainda ignoramos sobre as causas físicas das mesmas”.
O simples fato de que não se cura a obesidade comendo menos deveria ser suficiente para questionar a teoria de que comer demais é a causa. No entanto, isto é comumente tido com fato que reforça a ideia de que o obeso é mesmo incapaz de seguir uma dieta ou comer com moderação. Isto coloca a culpa de sua condição física interamente em seu comportamento. As próprias expressões utilizadas para designar estes comportamentos – “gula” e “preguiça” – são carregadas caráter acusatório.
Culpar a vítima de uma doença é uma atitude medieval e primitiva, uma saída fácil para mascarar a ignorância científica e a frustração com os resultados ruins de estratégias baseadas em tal ignorância.