Evolução e seleção natural – implicações dietéticas

Como indicado no post anterior, os animais (e por extensão as pessoas) estão adaptadas àquela dieta com a qual evoluíram. Para a maioria de nós, o tempo requerido para que mudanças evolutivas ocorram em uma espécie é inimaginável. Assim, é útil fazer algumas comparações. O Brasil foi descoberto a pouco mais de 500 anos. Há 1000 anos estávamos em plena Idade Média. Há 2000 anos, no meio do Império Romano. Muito tempo? Você acha que os romanos eram geneticamente diferentes do homem moderno? É claro que não. Um romano andando hoje em dia na Itália seria mais um italiano. 6000 mil anos, então, é muito tempo? Os sumérios estavam criando a escrita, as primeiras cidades surgiam, e as pessoas já ficavam bêbadas com cerveja. Os documentos gravados em pedra por estas civilizações relatam coisas como impostos, e punições cruéis por adultério. Ou seja, pessoas como as de hoje. 10 mil anos? Vinte vezes mais do que a descoberta do Brasil! Isso sim, é muito tempo. Será? As primeiras populações estavam abandonando o estilo de vida nômade, dando-se conta de que podiam guardar parte das sementes das plantas que consumiam para replantá-las, produzindo assim a maior de todas a revoluções, a invenção da agricultura. Espertas, essas pessoas. Você acha que o seu DNA é muito diferente do delas? Nossos genes diferem 1,6% de os de um Chimpanzé. Quantos % você acha que somos diferentes daqueles homens e mulheres de 10 mil anos atrás?

Nossa espécie é denominada Homo sapiens. Os fósseis mais antigos de Homo sapiens datam de 195 mil anos. 195.000. Cento e noventa e cinco mil anos! E eles já eram anatomicamente idênticos a nós. Todos os 10 mil anos de agricultura e civilização correspondem a não mais do que 20% deste período. Por 80%, ou 190.000 anos, nossa espécie de homens modernos subsistiu como caçadores e coletores. Mas a evolução de nossa espécie não tem apenas 200.000 anos. Começamos a divergir dos demais primatas há cerca de 4 a 8 milhões de anos. Mas este ancestral, se visto hoje, seria identificado como um símio, não como uma pessoa. Os primeiros hominídeos datam de cerca de 2,5 milhões de anos.

Toda a história da civilização, todas as guerras, todas as culturas, pirâmides, conquistas, enfim, toda a história humana de que temos registro corresponde a menos de 0,5% da evolução do gênero Homo. Isto significa que nossos 10 mil anos de agricultura são um fenômeno extremamente recente do ponto de vista evolutivo. E agora, 10 mil anos ainda lhe parece muito tempo?

Se condensássemos todos os 2.500.000 anos da evolução humana em 1 ano, teríamos o seguinte calendário:

Dia 1o de janeiro: Início da evolução dos hominídeos, há 2,5 milhões de anos

Dia 31 de dezembro, 23:59:59.9 segundos – data presente

Neste calendário imaginário, a agricultura surgiu apenas às 13h do dia 30/12

As primeiras cidades e a escrita, na madrugada do dia 31 de dezembro, às 3h

As civiilzações clássicas às 15 horas do último dia do ano

O açúcar só foi introduzido na europa (pelos Cruzados)  às 21 horas do dia 31, 3 HORAS antes da meia-noite

Os moinhos modernos, que, com a revolução industrial, baratearam a farinha branca refinada, aumentando sobremaneira o consumo de trigo, são extremamente recentes, 18 segundos antes da meia-noite.

A introdução do xarope de milho de alta frutose, com o qual se adoçam refrigerentes, biscoitos, sorvetes e outras guloseimas, surgiu apenas 7 segundos antes da meia-noite do ano evolutivo.

Se a evolução da espécie tivesse ocorrido em 1 ano, teríamos tido uma dieta por 363 dias e meio, e uma mudança radical nas 36 horas finais (e uma mudança mais radical ainda nos últimos segundos).

Em um calendário como este, a evolução e a adaptação da espécie não ocorrem de um dia para o outro, mas no decorrer de semanas e meses. O período anterior à agricultura é denominado período paleolítico, apenas 2 dias atrás. Nossos genes, obviamente, ainda são os mesmos do paleolítico. É evidente que estamos geneticamente adaptados à dieta paleolítica. Mas, e o que comíamos até anteontem?

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