É a 1a lei da termodinâmica. Qualquer coisa que aumente de massa precisa necessariamente agregar mais energia do que elimina. A metáfora de crianças crescendo torna isso mais óbvio. Uma criança de 2 anos aumentará seu peso em cerca de 10 Kg em 3 anos, pois está crescendo. É evidente que esta criança precisará comer em excesso (isto é, mais do que gasta), caso contrário estaria violando a 1a lei da termodinâmica. Mas alguém em sã consciência diria que a criança cresce por que comeu demais? Ou que ela não cresceria (ou encolheria!) pois faz muita atividade física? À medida que chegar à adolescência, esta criança experimentará períodos de crescimento muito acelerado, que se acompanharão de apetite voraz e preguiça (como é comum de se observar nos adolescentes). Mas ninguém afirmaria que crescem rapidamente na adolescência devido ao excesso de comida que consomem!
O único motivo para considerar que a causa e feito vão num sentido quando crescemos, mas noutro sentido quando engordamos, é que vivemos e aprendemos dentro de um paradigma específico e nunca paramos para pensar se nossa visão fazia algum sentido.
Os modelos animais se sucedem, tanto na natureza quanto experimentalmente. Um filhote de baleia terá de comer MUITO mais do que gasta para atingir o tamanho adulto. Alguém acha, no entanto, que ele cresce por que come muito? Se um cão comer muito, ficará do tamanho de uma baleia? Na década de 50, Jean Mayer realizou experimentos com camundongos geneticamente produzidos (por intercruzamentos) para serem obesos. Ao deixá-los experimentalmente famintos, Mayer conseguia fazê-los pesar menos que os camundongos normais. Mas ainda assim, estes camundongos tinham mais gordura corporal que os normais. Como? Às custas de severa perda de massa muscular.
O modelo experimental favorito de obesidade é o dos Ratos Zucker. Estes ratos são geneticamente predispostos a engordar. Quando são submetidos a restrição calórica desde o momento do desmame até a vida adulta, estes animais ainda assim engordam muito mais do que os ratos normais que podem comer à vontade. Por outro lado, seus músculos e órgãos (incluindo cérebro e rins) tornam-se consideravelmente menores. Em outras palavras, quando um filhote rato geneticamente programado para ser obeso é colocado em uma dieta severa de modo que nunca possa comer o quanto queira, ele ainda assim se tornará gordo, não apenas empregando a energia (que normalmente usaria no dia-a-dia) para engordar, mas canibalizando seus próprios órgãos a fim de alimentar seu tecido adiposo.
Há inclusive experimentos em que ratos Zucker são submetidos a dietas de fome que os levam à morte. Estes ratos, que morreram de fome, morrem com seu tecido adiposo praticamente intacto. E, frequentemente, com mais gordura corporal do que um rato normal que possa comer à vontade.
A mensagem derivada de 80 anos de modelos animais é inequívoca: o único determinante do engorde nestes experimentos são mecanismos regulatórios que atuam sobre o tecido adiposo – comer mais e exercita-se menos são apenas consequências necessárias. O tecido gorduroso não responde ao que o animal come, e sim aos estímulos regulatórios (hormonais, enzimáticos) que sobre ele atuam.
Por fim, há modelos de magreza também – animais geneticamente magros. Estes animais, mesmo que alimentados em excesso através de tubos oro-gástricos, permanecem magros, às custas do aumento da atividade física e metabólica (incluindo temperatura coporal). Ou seja, talvez os maratonistas não sejam magérrimos por que gastem muita energia correndo, talvez corram muito por serem geneticamente predispostos a direcionar suas calorias para os músculos e não para os adipócitos – seriam compelidos a correr! Analogamente, um cão galgo será mais ativo do que um basset não por um desejo consciente de se exercitar mais, e sim por que no galgo o particionamento das calorias entre músculo e gordura favorece o músculo, obrigando-o a ser mais ativo, enquanto no caso do basset o direcionamento metabólico das calorias para o tecido gorduroso o impele à inatividade.