Já vimos que os grãos são elementos estranhos à dieta humana durante 99,5% da evolução. Isto se aplica a todos os grãos. Mas o trigo é especial. Quem compilou os motivos pelos quais o trigo está especialmente implicado na gênese da obesidade, diabetes e um sem número de patologias auto-imunes foi o Dr. William Davis, em seu instigante livro “Wheat Belly“. Para uma entrevista na qual o autor descreve em linhas gerais as suas teses,clique aqui. Segue breve resumo:
- O trigo moderno é muito diferente do trigo que nossos avós consumiam. É o resultado de milhares e entrecruzamentos e hibridizações feitas nos anos 50, resultando em uma planta diferente, com maior quantidade de amido e um glúten mais problemático para o ser humano
- O tipo de amido presente do trigo (amilopectina A) é o de mais fácil digestão, produzindo aumento de glicose (e portanto de insulina) mais intenso do que o consumo de açúcar de mesa (sacarose). É isso mesmo, uma fatia de pão integral aumenta mais a sua glicose do que a mesma quantidade de sacarose (açúcar de mesa)
- A Gliadina, uma das proteínas do glúten, leva a um aumento da permeabilidade intestinal, o que por sua vez permite que proteínas inteiras sejam absorvidas para a corrente sanguínea, provocando reações de auto-imunidade.
- O glúten parcialmente digerido produz peptídeos denominados de “exorfinas”, um estimulante dos receptores opioides no cérebro, assim como a heroína. Estas exorfinas aumentam a fome e levam a um verdadeiro vício no consumo de produtos derivados do trigo. O simples bloqueio farmacológico das exorfinas já leva a um consumo de 400 calorias diárias a menos. Ou seja, o trigo é um poderoso estimulante do apetite.
- Além da conhecida Doença Celíaca, na qual os pacientes experimentam dores abdominais e diarreia com o consumo de glúten, há um grande número de patologias autoimunes associadas ao consumo de trigo. Podemos citar, por exemplo, atrite reumatoide, lupus, dermatite herpetiforme, ataxia cerebelar, esclerose múltipla, colite ulcerativa, cólon irritável, enxaquecas, entre outras. Muitos destes pacientes não apresentam os sintomas de doença celíaca, mas tem os anticorpos para d. celíaca positivos. Outros tem estes anticorpos negativos e, não obstante, melhoram com a retirada total do trigo.
Em resumo, o trigo é um grão que não faz parte da dieta paleolítica, mas cujos efeitos vão muito além do fato de representar a principal fonte de carboidratos da dieta. Trata-se do alimento que mais eleva a glicose no sangue, de um estimulante do apetite, e de um indutor de inflamação crônica e doenças auto-imunes. É possível que a retirada total do trigo represente a intervenção isolada mais importante de toda a dieta paleolítica.
Atualização – 16/09/2012
Entrevista traduzida por Thiago Witt, e postada no blog de Luiz Nassif:
Cortar o trigo da sua dieta é benéfico, diz Dr William Davis
Enviado por luisnassif, sab, 15/09/2012 – 08:19
Por cyro
Do Blog Vida Primal
A medicina descobre os malefícios do trigo.
Entrevista com o Dr. William Davis
Publicado em 2 de outubro de 2011 e no original em inglês, no site www.fathead-movie.com em 12 de setembro de 2011
Traduzido por Thiago M. Witt
Fat head: Você é um cardiologista por profissão, e no entanto você
acaba de escrever um elaborado livro sobre os efeitos negativos do
consumo de trigo. Como o trigo apareceu no seu radar? O que o fez
suspeitar que o trigo pode estar por trás de muitos de nossos problemas
de saúde modernos?
Dr. Davis: Tudo começou vários anos atrás quando eu pedi aos
pacientes do meu consultório que considerassem eliminar todo o trigo de
suas dietas. Eu fiz isso seguindo uma lógica muito simples: Se alimentos
feitos com trigo elevam o açúcar no sangue mais do que quase todos os
outros alimentos (devido ao seu alto índice glicêmico), incluindo o
açúcar de cozinha, então remover o trigo deve reduzir o açúcar no
sangue. Eu estava preocupado com os altos níveis de açúcar no sangue já
que 80% das pessoas que chegavam no meu consultório tinham diabetes,
pré-diabetes ou o que eu chamo de “pré-pré-diabetes”. Resumindo, a
grande maioria das pessoas mostravam marcadores metabólicos anormais.
Eu forneci aos pacientes um simples folheto de duas páginas sobre
como fazer isso, isto é, como eliminar o trigo e substituir as calorias
perdidas com alimentos saudáveis como mais vegetais, oleaginosas,
carnes, ovos, abacates, azeitonas, azeite de oliva, etc. Eles voltavam
três meses depois com taxas de açúcar no sangue em jejum menores,
hemoglobina A1c menor (um reflexo da taxa de açúcar no sangue dos
últimos 60 dias); alguns diabéticos se tornaram não-diabéticos,
pré-diabéticos se tornaram não pré-diabéticos. Eles também voltavam
cerca de 15 quilos mais leves.
Então eles começavam a me contar sobre outras experiências: alívio de
artrite e dores nas juntas, irritações de pele desaparecendo, asma
melhorando o suficiente para que parassem com os inaladores, sinusites
crônicas indo embora, inchaço nas pernas indo embora, enxaquecas
cessando pela primeira vez em décadas, sintomas de refluxo ácido e
intestino irritável aliviados. No começo, eu dizia aos pacientes que era
apenas uma estranha coincidência. Mas aconteceu tantas vezes e a tanta
gente que ficou claro que isso não era coincidência; era um fenômeno
real e reprodutível.
Foi aí que eu comecei a remover sistematicamente o trigo da dieta de
todo mundo e continuei a testemunhar reviravoltas similares na saúde
afetando dezenas de doenças. Não houve volta atrás desde então.
Fat Head: Você cita um bocado de pesquisa acadêmica no seu livro, mas
você também cita casos do seu histórico de prática médica. Então, como
uma questão do ovo-ou-galinha, qual veio primeiro? Você começou notando
que os pacientes que consumiam muito trigo tinham mais problemas de
saúde e então saiu em busca de pesquisas que apoiassem as suas
suspeitas, ou você cruzou com pesquisas que o levaram a notar como os
seus pacientes estavam se alimentando?
Dr. Davis: A experiência do mundo real veio primeiro. Mas o que me
surpreendeu foi que já havia uma extensa literatura médica documentando
tudo isso, mas era largamente ignorada ou não alcançava a consciência
geral nem a consciência da maioria dos meu colegas. E a maior parte da
documentação vem da literatura de genética agricultural, uma área, eu
posso garantir, que meus colegas não estudam. Mas eu desenterrei esta
área da ciência e falei com pessoas da USDA e no departamento de
agricultura em universidades para ganhar entendimento total de todas as
questões.
Uma das dificuldades que explicam parcialmente por que muitas destas
informações nunca viram a luz do dia é que os geneticistas agriculturais
trabalham em plantas, não em humanos. Há uma ampla e pervasiva
presunção seguida por estes cientistas bem intencionados: Não importa
quão extremas as técnicas usadas para alterar a genética de uma planta
como o trigo, ela ainda é perfeitamente boa para o consumo humano… sem
nenhuma dúvida. Eu acredito que isto é completamente errado e está por
trás de muito do sofrimento infringido em humanos consumindo este
produto moderno da pesquisa genética ainda chamada, enganosamente, de
“trigo”.
Fat Head: Então depois de apontar o trigo como o causador de vários
problemas de saúde, você começou a aconselhar seus pacientes a
eliminá-lo de suas dietas. O que o inspirou a dar o passo extra – e é um
grande passo – de escrever um livro?
Dr. Davis: O que eu testemunhei nas milhares de pessoas que removeram
o trigo de suas dietas não foi nada menos que incrível. Quando eu vi
uma perda de peso de mais de 30 quilos em seis meses, níveis de humor e
energia disparando, reversão de doenças inflamatórias como colite
ulcerosa e artrite reumatóide, alívio de irritações de pele crônicas e
artrite – e os efeitos foram consistentes caso após caso – eu percebi
que não poderia deixar essa questão passar silenciosamente apenas na
prática do meu consultório.
Reconhecidamente, o mundo vai precisar de mais dados confirmatórios
antes que o trigo, ou pelo menos a versão moderna geneticamente alterada
do trigo que estão nos vendendo, seja removido do prato de jantar do
mundo. Mas os dados que já estão disponíveis são mais que suficientes,
eu acredito, para trazer esta informação ao público para que as pessoas
tomem suas decisões por si mesmas. Eu comparo esta situação a viver em
um vilarejo onde todos bebem a água do mesmo poço. Nove em cada 10
pessoas ficam doentes quando bebem a água do poço; todos se recuperam
quando param de beber. Quando voltam a beber, todos adoecem novamente;
param e ficam melhores. Com uma relação causa-e-efeito tão consistente e
reprodutível como essa, precisamos mesmo de um ensaio clínico para
prová-lo para nós? Eu não preciso.
Isto será uma longa e difícil batalha na arena pública. O trigo
compõe 20% de todas as calorias humanas. Ele requer uma enorme
infraestrutura para o plantio, colheita, extração de sementes,
fertilização, processamento e distribuição. Esta mensagem vai
potencialmente prejudicar o sustento de milhares, talvez milhões de
pessoas que fazem parte desta infraestrutura. Isso me lembra das
batalhas que foram travadas (e são ainda hoje) quando se tornou
amplamente aceito que fumar cigarros fazia mal. Quando as pessoas de
dentro da indústria do tabaco eram indagadas sobre como elas podiam
trabalhar para uma companhia que destruía a saúde das pessoas, elas
respondiam “Eu tinha que sustentar minha família e pagar meu aluguel”. A
discussão elimine-todo-o-trigo-da-dieta-humana que eu proponho vai
atingir muita gente onde dói mais: no bolso. Mas, pessoalmente, eu não
estou disposto a sacrificar a minha própria saúde, a da minha família,
amigos, vizinhos, pacientes e da nação para permitir que um status quo
incrivelmente insalubre continue.
Fat Head: Quanto mais eu leio o livro, mais eu me pego pensando,
“Uau, eu sabia que o trigo era ruim para nós, mas é ainda pior do que eu
pensava”. Você teve a mesma reação enquanto fazia a pesquisa para o
livro? Você ficou surpreso ao ver quantos problemas físicos e mentais o
trigo pode causar?
Dr. Davis: Sim. Eu sabia que o trigo era ruim desde o início do
projeto. E houveram momentos em que eu me perguntava se não estava
deixando passar alguma coisa, dada a adoção unânime dos grãos pelo
agronegócio, fazendeiros, cientistas agriculturais, o USDA, FDA,
Associação Dietética Americana, etc. Mas o oposto aconteceu: Quanto mais
a fundo eu ia, mais esta coisa sendo vendida para nós com o nome de
“trigo” parecia pior… e pior, e pior, quanto mais longe eu ia.
Eu sou consciente da armadilha “para alguém com um martelo, tudo
parece um prego” que podemos cair, mas quando você vê doença após doença
desaparecer com a eliminação do trigo, não dá pra deixar de se
convencer que ele tem um papel crucial em centenas, literalmente
centenas, de condições comuns.
Fat Head: Você descreve no seu livro como o trigo de hoje é o produto
de cruzamento genético. Os cruzamentos são inerentemente ruins? Não
acontecem cruzamentos na natureza o tempo tudo?
Dr. Davis: Sim, acontecem. Humanos, assim como todas as plantas e
animais, são o produto de cruzamentos ou hibridização. Amor, sexo, e
cruzamento fazem o mundo girar e tornam a vida interessante. O problema é
que estes termos são usados muito vagamente pelos geneticistas.
Por exemplo, se eu expor sementes e embriões de trigo ao potente
veneno industrial azida de sódio, posso induzir mutações no código
genético da planta. Primeiro, deixa eu falar sobre a azida de sódio. Se
ingerida, as pessoas do controle de venenos do Centro para Controle de
Doenças recomenda que você não tente ressuscitar a pessoa que a ingeriu e
parou de respirar como resultado – apenas deixe a vítima morrer –
porque a pessoa tentando salvá-la pode morrer também. E, se a vítima
vomitar, não jogue o vômito na pia porque ela pode explodir (isso já
aconteceu). Então, exponha sementes e embriões de trigo à azida de sódio
e você obtêm mutações. Isto é chamado de mutagênese química. Sementes e
embriões também podem ser expostos a irradiação gama e altas doses de
radiação de raio-x. Todas estas técnicas caem sob nome de hibridização
ou, ainda mais enganador, técnicas de reprodução tradicionais. Eu não
sei quanto a você, mas a reprodução entre os humanos que eu conheço não
envolvem massagear um ao outro com venenos químicos ou uma tarde
romântica em um ciclotron para induzir mutações na nossa prole.
Estas “técnicas de reprodução tradicionais”, por falar nisso, são
consideravelmente mais disruptivas para a genética da planta que a
engenharia genética. Os americanos estão em guerra com os alimentos
geneticamente modificados (transgênicos, ou seja, com a adição ou
remoção de um único gene). A grande ironia é que a engenharia genética é
uma substancial melhoria sobre as “técnicas de reprodução tradicionais”
que ocorreram durante décadas e que ainda ocorrem.
Fat Head: Eu o conheci em pessoa a mais de um ano atrás, e você é um
cara bem magro, então eu fiquei surpreso ao ler no livro que você
costumava carregar por aí a sua própria barriga de trigo. Descreva as
diferenças entre você como um consumidor de trigo e você agora, em
termos de ambos o seu físico e a sua saúde.
Dr. Davis: Quinze quilos atrás, enquanto eu ainda era um entusiástico
consumidor dos “saudáveis grãos integrais”, eu lutava contra constantes
dificuldades em manter o foco e a energia. Eu dependia de potes de café
ou caminhadas e exercício só para combater a letargia e a mente
enevoada. Meus números de colesterol refletiam meus hábitos de consumo
de trigo: HDL 27 mg/dl (muito baixo), triglicérides 350 mg/dl (MUITO
alto), e açúcar no sangue na faixa de diabetes (161 mg/dl). Eu tinha
pressão alta, com valores ao redor de 150/90. E todo o meu excesso de
peso era ao redor da cintura – sim, minha própria barriga de trigo.
Dar adeus ao trigo me ajudou a perder o peso ao redor da cintura;
meus números de colesterol: HDL 63 mg/dl, triglicérides 50 mg/dl, LDL 70
mg/dl, açúcar no sangue 84 mg/dl, pressão 114/74—sem usar nenhum
remédio. Em outras palavras, tudo se reverteu. Tudo foi revertido
incluindo a luta para manter a atenção e o foco. Agora eu posso me
concentrar e focar em alguma coisa por tanto tempo que minha esposa me
manda parar.
Levando tudo em conta, eu me sinto melhor hoje com 54 anos do que eu me sentia quando tinha 30.
Fat Head: Como aprender o que você sabe sobre o trigo e outros grãos mudou sua prática médica?
Dr. Davis: Catapultou o sucesso em ajudar as pessoas a recuperarem a
saúde para a estratosfera. Entre as pessoas seguindo esta dieta, isto é,
eliminar o trigo e limitar outros carboidratos (junto com outras
estratégias saudáveis para o coração que eu advogo, incluindo
suplementação com óleo de peixe, suplementação com vitamina D para
alcançar um nível desejável de vitamina D 25-hidroxi de 60-70 ng/ml,
suplementação de iodo e normalização de disfunção da tireóide), eu não
vejo mais ataques cardíacos. Os únicos ataques cardíacos que eu vejo são
de pessoas que eu recém conheci ou aqueles que, por um motivo ou outro
(normalmente falta de interesse) não seguem a dieta. Um padre de quem eu
cuido, por exemplo, um homem generoso e maravilhoso, não conseguiu se
obrigar a rejeitar os muffins, tortas e pães que seus fiéis lhe traziam
todos os dias; ele teve um ataque cardíaco apesar de fazer todo o resto
corretamente.
Esta abordagem dietética, apesar de parecer peculiar
superficialmente, é extremamente poderosa. Que dieta, afinal, causa
perda de peso substancial, corrige as causas das doenças cardíacas como
partículas LDL pequenas, reverte a diabetes e a pré-diabetes, e melhora
ou cura múltiplas condições variando de artrite reumatóide a refluxo
ácido?
Fat Head: Você viu centenas de seus próprios pacientes ficarem
curados de doenças supostamente incuráveis após abrirem mão do trigo.
Descreva um ou dois dos exemplos mais dramáticos.
Dr. Davis: Duas pessoas estão na minha cabeça quase todos os dias,
principalmente porque eu sou especialmente gratificado pela magnitude de
suas respostas e porque eu tremo de pensar em como seriam suas vidas se
eles não se engajassem nesta mudança de dieta.
Eu descrevo a história de Wendy no livro, uma mãe e professora de 36
anos que tinha uma colite ulcerosa quase incapacitante; são grave que,
apesar de três medicações, ela continuava a sofrer constantemente de
cólicas, diarréia e sangramento suficiente para requerer transfusões de
sangue. Quando eu conheci a Wendy, ela me contou que seu
gastroenterologista e cirurgião tinha agendado para ela uma cirurgia
para remoção do cólon e criação de uma bolsa de ileostomia. Estas seriam
mudanças para o resto da vida; ela estaria fadada a usar uma bolsa para
coleta de fezes pelo resto da vida. Eu insisti para que ela removesse o
trigo. No começo ela se opôs, já que suas biópsias intestinais e exames
de sangue falharam para o teste de doença celíaca. Mas, tendo visto
tantas coisas incríveis acontecerem com a remoção do trigo, eu sugeri
que não havia nada a perder. Então ela concordou. Três meses depois, ela
não apenas tinha perdido 17 quilos, mas todas as cólicas, diarréias e
sangramentos haviam parado. Agora já fazem dois anos. Ela foi retirada
de todas as medicações e não há mais sinais da doença – colón intacto,
nenhuma bolsa de ileostomia. Ela está curada.
O segundo caso é o Jason, também descrito no livro, um programador de
software de 26 anos, neste caso incapacitado por dores nas juntas e
artrite. Consultas com três reumatologistas não conseguiram chegar a um
diagnóstico; todos prescreveram anti-inflamatórios e medicação para dor,
enquanto Jason continuava a mancar por aí, incapaz de se envolver em
mais que pequenas caminhadas. Dentro de cinco dias desde que removeu
todo o trigo, Jason estava 100% livre de dores nas juntas. Ele disse que
ele achou isso absolutamente ridículo e se recusou a acreditar. Então
ele comeu um sanduíche: As dores nas juntas voltarem correndo. Agora ele
está estritamente livre do trigo e das dores.
Fat Head: Seus pacientes são sortudos – você prefere mudar a dieta de
um paciente a fazer uma receita médica sempre que possível.
Infelizmente, você está entre a minoria. Como eu contei no meu blog
recentemente, a esposa de um colega de trabalho foi finalmente curada de
suas dores de cabeça quando um conhecido sugeriu que ela parasse de
comer grãos. Ela havia ido a diversos médicos que meramente prescreviam
medicações. Então… porque tão poucos médicos estão cientes de como os
grãos podem afetar nossa saúde?
Dr. Davis: Eu acredito que a área da saúde foi desviada em direção à
alta tecnologia, procedimentos que produzem altos lucros, medicações, e
cuidados catastróficos. Muito na área da saúde perderam a visão de
ajudar as pessoas e cumprir sua missão de curar. Enquanto isso soa fora
de moda, eu acredito que é uma tendência ruim para a saúde ser reduzida a
uma transação financeira sujeita a restrições legais. Ela precisa
voltar a ser uma relação de cura.
Eu acredito que muitos na área da saúde também tenham se desencantado
com a ineficácia da orientação alimentar. Porque a “sabedoria”
alimentar tem estado errada em tantos pontos durante os últimos 50 anos,
as pessoas ficaram desconfiadas da capacidade da nutrição e dos métodos
naturais para a melhora da saúde. Pelo que eu testemunhei, no entanto, a
nutrição e os métodos naturais tem um poder enorme para curar – se os
métodos corretos forem aplicados.
Fat Head: Você espera que seu livro eduque mais doutores no assunto,
ou esta é uma daquelas situações onde o público terá que ignorar seus
médicos e aprender sozinhos?
Dr. Davis: Lamentavelmente, muitas pessoas lerão a mensagem em Wheat
Belly, irão experienciar as incríveis transformações na saúde e peso que
podem acontecer, então vão contar aos seus médicos, que irão declarar
seu sucesso como uma “coincidência”, “força de vontade”, “efeito
placebo” ou outra desculpa. Muitos de meus colegas se recusam a
reconhecer o poder da dieta mesmo quando confrontados com resultados
poderosos. Isto só poderá mudar após um período muito longo.
Felizmente, mais e mais de meus colegas estão começando a ver a luz e
não procurar pelas respostas em drogas e procedimentos. Estes são os
profissionais da saúde que eu espero que irão emergir para ajudar
pessoas como defensores e treinadores em conduzir uma experiência como a
que é descrita em Wheat Belly.
Fat Head: Se mais médicos fossem informados das questões sobre as
quais você escreve em Wheat Belly, você acha que eles mudariam suas
recomendações alimentares, ou a mentalidade “gordura é má, grãos são
bons” está enraizada demais na profissão?
Dr. Davis: Não há absolutamente nenhuma dúvida de que o argumento
“gordura é má, grãos são bons” vai persistir nas mentes de muitos de
meus colegas por muitos anos. No entanto, eu acredito que se eles lessem
os argumentos expostos logicamente em Wheat Belly, eles iriam
primeiramente reconhecer que o “trigo” não é mais trigo e sim um produto
incrivelmente transformado da pesquisa genética. Então eles começariam a
seguir a lógica e entender que a longa lista de problemas associados ao
consumo do “trigo” moderno começa a explicar por que estamos
testemunhando uma explosão em doenças comuns. É aí que espero que todos
nós ouçamos um coletivo “Aha!”.
Fat Head: O Dr. Robert Lustig acredita que o excesso de frutose é
singularmente responsável por induzir a resistência à insulina e outros
aspectos da síndrome metabólica. Você culpa o trigo. Quando eu comecei a
apresentar sinais de pré-diabetes no meus trinta e tantos anos, eu
quase não consumia açúcar – eu sabia que o açúcar era ruim para mim –
mas eu comia um monte de massa, cereais e pães. Descreva como você
acredita que o consumo de trigo pode levar ao diabetes tipo 2 mesmo
entre aqueles que não tomam litros de refrigerante ou comem bolinhos Ana
Maria.
Dr. Davis: Não há dúvidas que a frutose é realmente um grande
problema na dieta dos americanos modernos. Como o trigo, fontes de
frutose como a sacarose, o xarope de milho de alta frutose, o mel e o
xarope de ágave aumentam a gordura visceral, o açúcar no sangue, e
causam uma curiosa demora na limpeza das partículas sanguíneas (restos
de quilomícrons) após as refeições que levam à aterosclerose. Então o
livro Wheat Belly, logicamente, não argumenta que o único problema na
dieta americana é o trigo.
No entanto, como muitos de nós aprenderam, cortar as fontes de açúcar
e frutose é uma grande idéia, mas não resolve o problema inteiro,
apenas um aspecto. E o trigo é o culpado nas pessoas que acreditam que
estão seguindo um caminho mais saudável ao incluir bastante dos
“saudáveis grãos integrais”.
Duas fatias de pão integral aumentam o açúcar no sangue mais do que
açúcar de cozinha, mais do que muitos doces. Estranhamente, isto não
impede os nutricionistas de encorajá-lo a comer mais disso. Coma mais
trigo e as elevações dos níveis de açúcar no sangue aumentam em
magnitude e frequência. Isto leva a elevações maiores e mais frequentes
dos níveis de insulina que, por sua vez, criam a resistência à insulina,
a condição que leva à diabetes.
Estas elevações nos níveis de açúcar no sangue também são
intrinsecamente danosas às delicadas células pancreáticas beta, que
produzem a insulina, um fenômeno chamado glucotoxidade. As células betas
possuem pouca capacidade de regeneração. Danos repetidos devido à
glucotoxidade levam a um número cada vez menor de células beta saudáveis
e funcionais produzindo insulina. É aí que o nível de açúcar no sangue
fica persistentemente em níveis elevados – mesmo quando seu estômago
está vazio: pré-diabetes, seguida em pouco tempo pela diabetes.
Então o trigo que nos aconselham a comer mais não é a solução para a
epidemia de diabetes que se espera que inclua um a cada dois adultos
americanos em um futuro próximo, e 346 milhões de pessoas mundialmente –
comer mais dos “saudáveis grãos integrais” é, creio eu, a causa desta
situação. E removê-los nos traz de volta ao caminho para deter ou até
mesmo reverter isso.
Fat Head: Você descreve em Wheat Belly como o trigo anão de hoje
contém mais proteínas do glúten e causa um aumento mais dramático na
glicose no sangue que o trigo que nossos bisavós consumiam. Mas Jared
Diamond e outros apresentaram argumentos convincentes que a troca para
uma dieta baseada em grãos fez com que o humanos se tornassem mais
baixos, mais gordos e mais doentes mesmo em tempos pré-bíblicos, quando o
trigo mutante de hoje em dia não existia. Então você diria que o trigo
passou de um alimento bom para um alimento ruim, ou de um alimento ruim
para um ainda pior?
Dr. Davis: Eu iria com a segunda opção, indo de um alimento ruim com
efeitos adversos para a saúde em algumas pessoas, para um alimento
incrivelmente ruim com efeitos adversos para quase todo mundo.
É lógico, se você estivesse faminto e a sua única opção de comida
fosse pão, você deveria comer o pão. Não há dúvidas que o trigo, como um
produto dos primórdios da agricultura, serviu para alimentar os humanos
quando o a caça ou coleta falhava. Como o Dr. Diamond aponta, esta
fonte de calorias, este seguro contra os dias de caça infrutífera, e
alimento de conveniência teve consequências adversas para a saúde mesmo
para os humanos antigos, mesmo em suas primeiras formas, como o einkorn e
emmer.
Nós temos como um fato que o consumo de trigo tem sido prejudicial
para os humanos desde que começamos a consumi-lo através de observações
como as apontadas pelo Dr. Diamond: humanos diminuindo de estatura,
aumentando de peso e adoecendo mais (doenças ósseas, apodrecimento dos
dentes, câncer, talvez aterosclerose) com o consumo de trigo, assim como
as descrições de doença celíaca tão antigas quanto 100 AC.
São as alterações introduzidas pelos geneticistas durante os últimos
40-50 anos, em conjunto com a recomendação para que se consuma mais
trigo, que conspiraram para a criação da atual bagunça em que nos
encontramos, transformando o trigo de um ingrediente problemático a um
flagelo que exerce efeitos adversos à saúde em escala internacional.
Fat Head: Vamos falar sobre alguns dos problemas de saúde específicos
que podem ser causados ou acelerados pelo trigo. Um dos meus leitores
tem uma irmã que foi curada de esclerose múltipla após eliminar o trigo.
Outros me contaram que foram curados de fibromialgia, transtorno de
déficit de atenção ou depressão. Eles estão todos loucos, ou os
“saudáveis grãos integrais” tem alguma coisa a ver com essas doenças?
Dr. Davis: Mesmo eu tendo testemunhado os incríveis efeitos da
eliminação do trigo em milhares de pessoas durantes muitos anos, mesmo
eu ainda aprendo novas lições sobre seus efeitos. Parece que não passa
uma semana sem que eu aprenda algum novo benefício da eliminação do
trigo.
Eu também ouvi incontáveis casos de alívio evidente, e ocasionalmente
cura, de fibromialgia, TDA e depressão. Eu tenho apenas algumas
instâncias em que eu testemunhei melhoras em esclerose múltipla, já que
esta doença é incomum na população que eu atendo na prática de
cardiologia e na minha experiência de saúde cardíaca on-line. Mas dado o
alcance do trigo em tantos aspectos da saúde, eu não ficaria nem um
pouco surpreso de ver uma remissão substancial da doença, dado os
potenciais efeitos inflamatórios dos componentes do trigo no sistema
nervoso central.
Infelizmente, a maioria dos meus colegas tratam isso como pura
coincidência, apesar do fato disso poder ser ligado com o consumo de
trigo, e desligado com a eliminação do trigo, ligado novamente à vontade
– repetidamente, reprodutivelmente, e em muitas, muitas pessoas. A
noção que grãos integrais são saudáveis está tão profundamente
infiltrada no pensamento das pessoas na área da saúde que elas são muito
resistentes a mudar suas visões.
Eu comparo esta situação a viver em um vilarejo onde todos bebem a
água do mesmo poço. Um dia, 9 entre 10 pessoas ficam doentes bebendo
dessa água; eles melhoram quando param de beber a água. Por
conveniência, eles voltam a beber a água do poço e 9 entre 10
prontamente adoecem novamente; melhoram de novo quando param. Nós
exigimos um estudo clínico para provar que existe realmente um problema?
Insistimos que é apenas a imaginação das pessoas e que a diarréia e
desnutrição resultantes do consumo da água é devido a alguma outra
coisa? Esta é a situação em que nos encontramos com esta coisa que nos
vendem e chamam de “trigo”.
Eu não acho que estou causando uma histeria coletiva, com todo mundo
atirando loucamente seus produtos feitos com trigo no lixo porque eu
mandei. As pessoas estão relacionando suas experiências de perda de peso
substancial sem restrição calórica, alívio de múltiplas condições e
doenças, assim como sentimentos subjetivos de bem-estar e humor
melhorados. De fato, eu diria que a eliminação do trigo é a estratégia
mais incrível e consistentemente efetiva para a melhora da saúde que eu
jamais testemunhei em 25 anos de prática de medicina.
Fat Head: Eu abri mão do trigo e outros grãos primeiramente para
perder peso, então eu fiquei agradavelmente surpreso quando vários
problemas de saúde irritantes foram embora logo em seguida… psoríase,
uma asma leve, refluxo gástrico e artrite entre eles. Com que frequência
você vê resultados como o meu, e por que o trigo causa estes problemas
em primeiro lugar?
Dr. Davis: Resultados como o seu são a regra, não a exceção. De fato,
é apenas ocasionalmente que uma pessoa diz “eu perdi 2 quilos em um mês
mas nada mais aconteceu.”
Sendo conservador, eu estimaria que 70% das pessoas experienciam
benefícios substanciais além da perda de peso. Pode ser o alívio de um
problema de pele como psoríase, alívio de problemas nas vias
respiratórias como asma e sinusite crônica, alívio de problemas
gastrointestinais como refluxo ácido e síndrome do intestino irritável,
ou pode ser alívio da artrite simples ou da inflamatória como a artrite
reumatóide. A série de problemas causados ou piorados por esta coisa não
é nada menos que espantosa.
Não há nenhum componente isolado do trigo que seja responsável por
sua miríade de efeitos adversos para a saúde. A proteína gliadina é
responsável por efeitos inflamatórios diretos, enquanto ao mesmo tempo
estimula o apetite. A proteína glúten é responsável pelo efeito
inflamatório destrutivo no intestino e no sistema nervoso central. As
lectinas no trigo provavelmente estão por trás do aumento da
permeabilidade intestinal para múltiplas proteínas de fora que se
cascateiam em problemas inflamatórios e auto-imunes como artrite
reumatóide e lupus. A amilopectina A é responsável pela expansão da
gordura visceral no abdômen, a “barriga de trigo” que por sua vez leva à
inflamação, resistência à insulina, diabetes, artrite e doença
cardíaca.
Fat Head: Então são primariamente o glúten e as lectinas no trigo que
causam tantos problemas digestivos, ou há alguma outra coisa envolvida
também?
Dr. Davis: Incrivelmente, ainda que o efeito do trigo no rompimento
da saúde do sistema digestivo seja ubíquo – certamente é muito mais do
que a doença celíaca – tem havido pouca exploração dos motivos. Então eu
só posso especular o porquê do trigo exercer efeitos gastrointestinais
tão frequentes e generalizados.
Provavelmente tem a ver com a gliadina, o glúten e as lectinas – um
ou uma combinação de todos eles. Também estou convencido que há
componentes no trigo além destes três que exercem efeitos adversos para a
saúde que explicam por que eu vejo que o todo é maior que a soma das
partes, isto é, que a remoção do trigo parece proporcionar maiores
benefícios do que cada componente prejudicial sugeriria.
Fat Head: Todos os tipos de glúten são igualmente ruins ou alguns são
piores que outros? Se alguns são piores, será o glúten do trigo moderno
particularmente danoso?
Dr. Davis: A estrutura do amino ácido do glúten pode variar
amplamente, mas todo glúten compartilha a viscoelasticidade
característica desejada pelos padeiros e consumidores, a propriedade que
permite ao pizzaiolo jogar a massa para o alto para dar forma à pizza e
permite que as massas sejam moldadas em múltiplas formas.
As piores, mais nocivas formas de glúten são as variedades recentes
criadas por geneticistas. As mudanças introduzidas na coleção de genes
“D” características do trigo moderno semi-anão são provavelmente
responsáveis por quadruplicar os casos de doença celíaca no nossos
tempos, dobrando somente nos últimos vinte anos. Formas menos
destrutivas de glúten são aquelas encontradas em variedades antigas de
trigo como a eikorn, emmer e spelt – menos destrutivas, mas não
inofensivas.
Minha visão: O glúten, em todas as suas formas, mas especialmente em
suas formas modernas, é potencialmente tão destrutivo para a saúde
humana que a solução ideal é dizer adeus a ele completamente.
Fat Head: Você aconselha a seus pacientes a ficarem livre do trigo,
ou livres do trigo e do açúcar? Eu pergunto porque se eles se livram de
ambos, algumas pessoas diriam que era o açúcar que estava causando
problemas, não os grãos.
Dr. Davis: Sim, o açúcar está na lista a evitar. Não há dúvidas que,
pelo menos para algumas pessoas, especialmente os mais jovens, a
exposição ao açúcar em refrigerantes, junk foods e petiscos é um grande
problema.
No entanto, apenas eliminar o açúcar e comer mais “saudáveis grãos
integrais” faz a maioria das pessoas não perder peso, mas ganhá-lo. Esta
é a luta de pessoas que acreditam que estão seguindo conselhos
saudáveis para limitar os doces e comer mais “saudáveis grãos integrais”
para depois se encontrarem 15, 20, 50 quilos além do peso ideal.
Troque a ordem, isto é, elimine todo o trigo, e o desejo por doces é
quase sempre reduzido sensivelmente, já que a gliadina, a proteína do
trigo estimulante de apetite foi eliminada. É uma tarefa bem mais fácil
eliminar o trigo primeiro, ao invés de eliminar o açúcar primeiro.
E, é claro, não se trata apenas do peso. Se trata de todos os outros
efeitos do trigo que mesmo o açúcar não pode provocar, como inflamação
nas juntas, refluxo ácido, síndrome do intestino irritável, efeitos no
cérebro, retenção de líquidos, etc.
Fat Head: No livro Nutrition and Physical Degeneration (Nutrição e
Degeneração Física) do Dr. Weston A. Price, ele descreveu como pessoas
em sociedades tradicionais fermentavam ou deixavam de molho os seus
grãos antes de consumi-los. Você acredita que fazer isso torna os grãos
um perigo menor para a saúde, ou o trigo mutante atual é muito cheio de
proteínas problemáticas para se tornar seguro usando estes métodos?
Dr. Davis: Deixar de molho e fermentar transformam o trigo, uma coisa
ruim, em uma forma que contém menos lectinas e menos glúten (entre
outras alterações), uma coisa menos ruim. Mas devemos tomar cuidado para
não cair na mesma armadilha que enganou nutricionistas e agências
“oficiais”: Substituir uma coisa ruim (farinha branca) por uma coisa
menos ruim (grãos integrais), e então consumir bastante desta coisa
menos ruim é bom para você. Esta é a lógica falha que nos levou a esta
confusão.
Deixar de molho, por exemplo, reduz o conteúdo de lectinas em cerca
de 35% – melhor, mas não ótimo. Você ainda estará exposto a todos os
efeitos adversos do trigo, que incluem o estímulo de apetite da
gliadina, altos níveis de açúcar no sangue da amilopectina A, respostas
inflamatórias dos glútens e das gluteninas, e aumento da permeabilidade
intestinal a proteínas de externas pelas lectinas.
Da mesma forma, a fermentação reduz a carga de carboidratos mas deixa
os outros aspectos indesejáveis do trigo intactos. Melhor, claro, mas
ainda não é ótimo.
Até os geneticistas estão tentando fazer a re-engenharia do trigo
para torná-lo menos nocivo. Uma área de pesquisa é tentar remover todas
as sequências mais destrutivas do glúten. Como usual, eles entendem a
genética da planta mas não entendem nada dos efeitos do consumo desta
planta na saúde humana.
Então não importa o que um padeiro ou geneticista faça para maquiar
esta coisa, ela continua essencialmente a mesma, com os mesmos efeitos
estimulantes de apetite, alteradores de mente, inflamatórios, auto
imunes e acumuladores de peso.
Fat Head: E os outros grãos como aveia, amaranto e trigo mourisco (ou
sarraceno)? Eles fazem bem ou são tão ruins quanto o trigo?
Dr. Davis: A aveia, de fato, têm sobreposição imunológica modesta com
trigo. Mas o problema com a aveia recai na sua capacidade extravagante
de elevar os níveis de açúcar no sangue. Uma tigela de farinha de aveia
orgânica – sem adição de açúcar – pode elevar o açúcar no sangue em uma
pessoa não diabética a 150 mg/dl, 200 mg/dl, as vezes até mais. Em um
pré-diabético ou diabético, 300 mg/dl não é incomum. Uma das estratégias
que eu ensino aos pacientes é a medir a glicose no sangue uma hora
depois de uma refeição para averiguar a severidade da elevação do açúcar
no sangue; foi aí que eu vi, caso após caso, níveis extravagantemente
altos de açúcar no sangue após o consumo de aveia.
Amaranto e trigo sarraceno são grãos que, para todos os efeitos, são
apenas carboidratos. Eles não possuem os efeitos negativos do trigo.
Como a aveia, no entanto, eles elevam os níveis de açúcar no sangue,
seguido de todos os efeitos adversos deste fenômeno (resistência à
insulina, glicação nos olhos, cartilagens, artérias e partículas de
LDL). Então eu digo para as pessoas consumirem estes grãos em pequenas
quantidades, ou seja, porções de não mais que meia xícara (cozidas) no
contexto de uma dieta com carboidratos limitados (40 a 50 gramas por dia
para a maioria das pessoas).
Fat Head: Que tipo de reação o seu livro despertou? Ou ainda é cedo para julgar?
Dr. Davis: A reação tem sido incrível. Nos primeiros 9 dias após o
lançamento, Wheat Belly entrou para a lista dos mais vendidos do The New
York Times.
Mas ainda mais importante para mim, diariamente eu ouço sobre a
diferença que esta mensagem está fazendo na vida das pessoas: perda de
peso rápida onde pouca ou nenhuma estava ocorrendo; alívio de dores
crônicas; níveis de açúcar no sangue despencando, etc. O que tem sido
especialmente gratificante é que, graças ao feedback instantâneo das
mídias sociais, eu fico sabendo destas histórias apenas dias depois das
experiências dos leitores. Mesmo no meu consultório, eu geralmente
espero vários meses para ter o feedback dos resultados dos pacientes
livres do trigo. Agora fico sabendo sobre eles literalmente em dias. A
efusão de feedbacks positivos tem sido absolutamente maravilhosa e
reforçou ainda mais a minha convicção que este é um dos maiores
problemas de saúde do nosso tempo.
Fat Head: Você ouviu algo dos chamados especialistas que insistem que
os grãos integrais são parte de uma dieta saudável? Eu assumo que você
não seja muito popular com esse pessoal atualmente.
Dr. Davis: A nutrição é um tópico importante. Mas é também um tópico
surpreendentemente emocional. Nutricionistas e outros “especialistas” em
nutrição tem sido tão profundamente doutrinados no argumento “grãos
integrais são bons” que sua reação instantânea é a raiva, e que isso é
uma modinha boba passageira para perda de peso rápido. Qualquer um que
tenha lido o livro percebe que isto é precisamente o que Wheat Belly não
é. Ele expõe todas as coisas que não lhe disseram sobre este grão
geneticamente alterado, construído para aumentar o rendimento mas também
aumentar o apetite.
Grupos de comércio de trigo, como a Grain Foods Foundation, emitiram
comunicados de imprensa declarando sua intenção de lançar uma campanha
pública para desacreditar a mim e à mensagem que trago com o Wheat
Belly. Em resposta, eu publiquei uma carta aberta que também enviei por
diversas mídias, convidando-os a se juntar a mim em um debate público,
com câmeras de TV e tudo; eles ainda não aceitaram o meu convite – e
suspeito que nunca aceitarão. Com o que eu revelei, eu duvido que eles
queiram uma exposição pública de todos estes argumentos.
Fat Head: Última pergunta… Agora que o livro foi lançado, você alguma
vez perde o sono à noite, pensando se as boas pessoas da Monsanto e
Pillsbury estarão planejando seu sumiço? Porque se eu fosse você, eu
evitaria becos escuros por em tempo.
Dr. Davis: Obrigado pelo aviso, Tom! Esta campanha anti-trigo faz
inimigos em algumas forças muito influentes, incluindo a indústria
alimentícia, o agronegócio, grupos de comércio de trigo e, para minha
grade surpresa, a indústria farmacêutica. Eu fiquei chocado recentemente
(ainda que eu suponho que não deveria ficar, sabendo do que algumas
pessoas são capazes) de saber que pelo menos um grupo de comércio de
trigo é largamente populado por pessoas na folha de pagamento da
indústria farmacêutica. Agora, isso é uma coisa preocupante.
O que me mantém focado na transmissão desta mensagem, no entanto, são
as maravilhosas histórias que eu continuo ouvindo diariamente de
pessoas redescobrindo sua saúde perdida, alívio de dores, etc., tudo
fazendo o oposto do que nossas agências oficiais nos dizem para fazer e
fugindo para longe dos “saudáveis grãos integrais”.
Fat Head: Muito obrigado pelo tempo cedido para responder nossas
questões, Dr. Davis. Eu espero que você venda um milhão de cópias.