Introdução à dieta paleolítica – Mark Sisson

Mark Sisson é um dos luminares do movimento “primal / páleo”. Seu blog, Mark’s Daily Apple, é referência obrigatória nesta área. Quem fornece seu email passa a receber não apenas as suas novas postagens, mas também uma sequência de 7 “Lições” sobre páleo, um email por dia, como se fossem aulas.

O primeiro e mais importante livro de Mark Sisson é The Primal Blueprint, que poderia ser traduzido por “Planta Baixa Primitiva, ou o O Projeto Primitivo do ser humano”.

Após as recentes postagens mais “filosóficas”, inauguro 2013 com a tradução do primeiro email da série. Feliz 2013 a todos.

Aula No.1 – Primal Blueprint – Mark Sisson

Tradução: José Carlos Souto

lionVou lhe fazer uma pergunta, e eu quero sua resposta instintiva. Responda rápido!

Com o que você alimenta um leão?

Carne.

Carne é obviamente a resposta certa. Você alimenta um leão com carne crua. Creio que até o vegetariano mais ardente admitiria que um leão deve comer carne.

Mas por que eles “deveriam” comer carne? Como nós determinamos o quê um ser vivo deveria comer?

Obviamente, leões são predadores. Eles caçam e comem animais quando na vida selvagem. Mas não é só isso.

Leões caçam e comem animais, e eles e seus ancestrais felinos têm feito isso por centenas de milhares de anos, até mesmo milhões de anos. ESTA É A CHAVE.

Caçar, matar e comer carne crua moldou a evolução dos leões por muitos milhões de anos. A constituição genética do leão foi esculpida comendo carne. Seus dentes e garras são feitos para matar, seu trato digestivo é feito para processar proteínase gordura. Você poderia mesmo dizer que os genes de um leão esperam por uma dieta de carne crua como a de seus ancestrais, e funcionam melhor com ela. Ao contrário, uma dieta que divirja dramaticamente da dieta ancestral será provavelmente prejudicial, com o grau de dano sendo proporcional ao grau de divergência. Uma dieta vegetariana deixará seu leão doente, fraco, e provavelmente gordo; uma dieta vegana provavelmente o mataria.

Ninguém argumentaria contra alimentar leões com carne crua, e qualquer um que entenda a Seleção Natural (e, como alguém que assina esta newsletter, tenho certeza que você entende) concordaria que leões funcionam melhor com uma dieta de carne crua pois evoluíram com uma dieta de carne crua.

Isto funciona com outros animais, também. Vacas comem grama, não carne. Gatos, estes pequenos leões domésticos, comem carne, não grãos e vegetais.

E humanos? Humanos comem nuggets, refrigerante, e pão branco. Espere! (som de disco arranhando). Isto não está certo.
Humanos são animais também. Podemos ser relativamente novos neste planeta, mas já estamos aqui há uns bons 200.000 anos, e nossos ancestrais há milhões de anos. E, por uns bons 190.000 destes anos, éramos caçadores-coletores, vivendo da terra; caçadores de grandes animais que se fartavam dos mesmos e de plantas.

Então, desenvolvemos agricultura, e pelos próximos 9.900 anos, grãos dominaram a dieta humana.

100 anos atrás, os alimentos foram industrializados, dando-nos o óleo vegetal, gorduras trans, farinha branca e açúcar baratos.

Bem, podemos não saber exatamente o que nossos ancestrais paleolíticos comiam no seu dia a dia. Não temos seus menus ou diários nutricionais. Mas com certeza sabemos o que ele não comiam.

Nossos ancestrais não comiam grãos, legumes (vegetais que crescem em vagens), açúcar refinado e óleos vegetais processados.

O problema com as pessoas é que nós somos espertos o suficiente para explorar cada coisa oferecida pelo mundo natural. Nós não nos atemos a uma única fonte de alimentos, como o leão e sua carne ou as vacas e sua grama. Nós diversificamos. Nós pegamos vegetação comestível, nós caçamos animais grande e pequenos, nós comemos peixes, nós desenterramos raízes comestíveis, e nós catamos frutas vermelhas em arbustos. A grande variedade disponível torna difícil determinar uma dieta evolutiva específica para os humanos… Mas isto não nos impede de saber o que NÃO estava disponível.

Eis o que sabemos:

Grãos, feijões e legumes não eram disponíveis até o desenvolvimento da agricultura cerca de 10 mil anos atrás. O registro fóssil sugere que a saúde humana sofreu um baque com o advento da agricultura, tanto quanto pode-se deduzir do estudo dos ossos. Os agriculturalistas eram mais baixos, tinham mais cáries, cérebros menores e ossos mais frágeis que os caçadores-coletores. E a expectativa de vida também caiu.

Xarope de milho com alta frutose e óleos vegetais só foram disponibilizados nos últimos 100 anos – o xarope de milho há apenas 30 e poucos anos. Hoje, as pessoas são mais gordas, mais diabéticas e têm mais câncer e doença cardíaca do que as pessoas que viviam 100 anos atrás, mesmo quando você leva em conta as diferenças de expectativa de vida. A maioria, se não todas essas doenças, são diretamente atribuíveis ao nosso estilo de vida e dieta modernas.

Se você aceita que a biologia dos animais, como os leões, funciona melhor sob suas dietas ancestrais e evolutivas, o mesmo não seria provavelmente verdadeiro para os humanos?


Não deveríamos olhar com mais cuidado, de forma um pouco mais cética, para as comidas que passaram a estar disponíveis para os seres humanos apenas nos últimos 10.000, 1000 e 100 anos? E, quem sabe, as carnes, peixes, aves, nozes e sementes, frutas, raízes e tubérculos que estavam disponíveis para os caçadores-coletores por milhões de anos possam, em verdade, ser bons para nós?

Isto é o que eu chamo de “lógica de Grok”.

Picture4 11

Grok – meu nome jocoso para nosso ancestral caçador-coletor arquetípico – Grok somos nós.

Nós somos Grok. Bem, ao menos nossos corpos querem ser. Nosso genes certamente “pensam” que nós ainda estamos caçando e coletando, pois eles pouco mudaram nos últimos 10.000 anos. Nossos genes esperam por certas coisas, certos alimentos, certos níveis de atividade, certas quantidades de sono. Eles funcionam melhor quando expostos a condições iguais ou similares àquelas sob as quais evoluíram.

E há uma coisa importante sobre os genes. Eles podem ser ligados ou desligados, ou, mais tecnicamente falando, eles podem ser “expressados”. Só por que você tem um gene, digamos, para câncer de mama ou diabetes tipo 2, não significa que você esteja destinado a desenvolver câncer de mama ou diabetes tipo 2. Simplesmente significa que, na dependência de algum estímulo em seu ambiente, este gene irá ativar-se (ou desativar-se) e você terá uma chance maior (ou menor) de desenvolver a doença.

A isto se chama expressão genética

As coisas que comemos, a quantidade de sono que temos, nossos níveis de stress, o quanto nos exercitamos, se nos expomos ou não à luz solar – todos estes fatores ambientais podem estimular a expressão genética – para melhor ou pior. E, porquanto quase qualquer coisa que façamos possa estimular a expressão dos genes, a lista de coisas a que realmente devemos prestar atenção é bem curta. De fato, ela pode ser resumida a 10 leis simples (leia mais sobre as 10 leis – 10 primal blueprint laws – aqui)

É por isso que eu gosto da lógica de Grok como ponto inicial quando penso sobre a saúde humana. Ela resume-se a uma observação bem simples. Quando os humanos começaram a divergir do estilo de vida de seus ancestrais caçadores-coletores, sua saúde sofreu. Quando os alimentos industrialmente processados passaram a substituir nossa comida natural, a saúde sofreu mais ainda.

Hoje, as pessoas obtém a maior parte de suas calorias de grãos refinados, açúcar, e óleos vegetais. Elas sujeitam-se a estresse crônico, levam vidas sedentárias, trabalham em empregos que odeiam, e vivem em ambientes fechados. Hoje, as pessoas têm mais diabetes, doença cardíaca, câncer e obesidade do que nunca antes.

Correlação? Com certeza.
Coincidência? Duvido.
Causalidade? Creio que vale a pena investigar esta possibilidade.

Em lições futuras, começaremos esta investigação. Investigaremos as muitas formas em que o estilo de vida moderno diverge de nosso passado evolutivo, e como nossa saúde sofre em função disso. Tudo, desde a comida que consumimos, os calçados que usamos, o protetor solar passamos, as cadeiras nas quais sentamos, os exercícios que fazemos (ou não fazemos) – tudo faz parte.

Creio que você aprenderá muito sobre como recuperar a sua saúde – e a dos seus – seguindo sua Planta Baixa Primitiva e estimulando positivamente a expressão genética, e penso que você irá adorar aquilo que aprender.

Fique ligado para a lição No. 2.

Mark Sisson

Área de Membros Ciência Low-Carb

Acesso a conteúdo
premium exclusivo