A dieta de baixa gordura está morta – 1

Já escrevi inúmeras vezes aqui no blog, nos últimos anos, sobre todas as evidências científicas que apontavam para o fato de que a gordura na dieta não era o problema (it’s the carbs, stupid!). Para quem quiser refrescar a memória, clique aquiaquiaqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui,aqui,aqui, aqui,aqui, aquiaqui.

Armas de destruição em massa – carboidratos e gordura trans juntos

Ontem, foi publicado mais um grande estudo, uma metanálise absurdamente completa, na revista Annals of Internal Medicine, abarcando todas as melhores evidências, prospectivas e randomizadas, sobre o efeito das gorduras no risco cardiovascular. O resultado?

  • Não há evidências de que a gordura saturada na dieta aumente o risco de ataques cardíacos ou de quaisquer outros eventos cardiovasculares;
  • Não há evidências de que o consumo de gorduras insaturadas proteja contra doenças cardíacas (sorry, Becel);
  • Gorduras trans são as que realmente fazem mal (sorry again, margarinas!);
  • Gordura saturada até pode aumentar o LDL, mas aumenta também o HDL, e o TIPO de LDL transforma-se em LDL padrão A (partículas maiores, menos densas, menos oxidadas, e menos aterogênicas, isto é, uma partícula de LDL que não é propensa a se acumular nas artérias)
  • Ao analisar as concentrações de ácidos graxos específicos na corrente sanguínea, os pesquisadores acharam:
    • O ácido margárico, uma gordura saturada presente na manteiga e outros laticínios gordos, estava associado a MENOR risco cardiovascular;
    • EPA e DHA (ômega-3) estava associado a MENOR risco;
    • Vários ácidos graxos ômega-6 estavam associados com MAIOR risco (Sorry, óleos vegetais extraídos de sementes!)

As manchetes estão se espalhando pelo mundo. Estava na capa do New York Times de hoje:

As melhores partes:

  • Many of us have long been told that saturated fat, the type found in meat, butter and cheese, causes heart disease. But a large and exhaustive new analysis by a team of international scientists found no evidence that eating saturated fat increased heart attacks and other cardiac events.
  • “My take on this would be that it’s not saturated fat that we should worry about”
  • In addition to raising LDL cholesterol, saturated fat also increases high-density lipoprotein, or HDL, the so-called good cholesterol. And the LDL that it raises is a subtype of big, fluffy particles that are generally benign. 
  • The smaller, more artery-clogging particles are increased not by saturated fat, but by sugary foods and an excess of carbohydrates, Dr. Chowdhury said. “It’s the high carbohydrate or sugary diet that should be the focus of dietary guidelines,” he said. “If anything is driving your low-density lipoproteins in a more adverse way, it’s carbohydrates.” (TRADUÇÃO): As partículas pequenas, entupidoras de artérias, não aumentam por causa da gordura saturada, e sim por alimentos com açúcar e pelo excesso de carboidratos, explicou o Dr. Chowdhury. “É a dieta de alto carboidrato, é o açúcar que deveria ser o foco das diretrizes nutricionais”, ele disse. “Se há algo que está produzindo alterações adversas em seu LDL, são os CARBOIDRATOS”. Como se faz para sorrir por escrito?

E a primeira repercussão na mídia nacional já saiu: site da revista VEJA (prevejo que, até amanhã, repercutirá bem mais):

Gordura saturada não leva a doenças cardíacas, diz estudo

Nova pesquisa questiona recomendação de substituir consumo de gordura ‘ruim’, como a da carne vermelha, pela ‘boa’, como a do peixe. Conclusão, porém, deve ser interpretada com cautela

Carne e alecrim

Alimentação: Estudo não observou mais doenças cardíacas em quem consome mais gordura saturada (Thinkstock)

A publicação de uma série de estudos nos últimos anos deu origem à ideia de que a gordura saturada, encontrada na carne vermelha, na manteiga e no queijo, por exemplo, aumenta o risco de doença cardíaca [na verdade é o contrário. A publicação de estudos observacionais há décadas sugeriu essa associação. Os estudos recentes, prospectivos, vêm refutando essa hipótese há anos, só não vê que não quer]. Ao mesmo tempo, essas pesquisas concluíram que a gordura insaturada, como o ômega-3 presente em peixes, oleaginosas e no azeite, reduz essas chances. Por isso, é comum a recomendação de que devemos substituir, sempre que possível, o consumo da gordura “ruim” pelo da gordura “boa” como forma de proteger o coração.

Um extenso estudo divulgado nesta terça-feira questiona essa orientação. A pesquisa não encontrou evidências significativas de que consumir mais gordura saturada aumenta as chances de um problema cardíaco. Além disso, o estudo observou que pessoas que fazem uso de suplementos de ômega-3 não têm menos doenças do coração do que as outras.

A nova pesquisa, realizada na Universidade de Cambridge, na Grã-Bretanha, revisou 76 pesquisas sobre o assunto — sendo que 17 delas analisaram os níveis de ômega-3 no sangue dos participantes e 27 acompanharam de perto indivíduos que passaram a fazer uso de suplementos dessa gordura. Ao todo, os estudos revisados envolveram mais de 600.000 pessoas. Os resultados foram divulgados no periódico Annals of Internal Medicine.

“Minha opinião é que não é com a gordura saturada que nós devemos nos preocupar na nossa alimentação”, diz Rajiv Chowdhury, epidemiologista cardiovascular da Universidade Cambridge e coordenador do estudo.


Cautela — A comunidade científica, porém, recebeu a pesquisa com ressalvas [bullshit – a preponderância da evidência científica de nível 1 está estabelecida – GAME OVER dudes!]. Os especialistas alertam que o estudo não dá sinal verde para o consumo desenfreado de gordura saturada e nem quer dizer que o hambúrguer é tão saudável quanto o salmão. Isso porque as pesquisas revisadas não compararam diretamente os efeitos da gordura saturada com os da insaturada nas mesmas pessoas ao longo de um longo período. Ou seja, evidências consistentes ainda são necessárias para compreender de que forma a alimentação impacta o risco de doenças cardíacas.

Frank Hu, professor de nutrição da Universidade Harvard e um dos principais pesquisadores sobre alimentação no mundo, disse ao jornal americano The New York Times que as pessoas não devem avaliar o consumo de determinados nutrientes como algo isolado. Isso porque um indivíduo, ao retirar a gordura saturada da dieta, por exemplo, pode acabar consumindo mais pães, massas e outros carboidratos refinados, o que, em exagero, também faz mal ao coração. “Acredito que no futuro as recomendações alimentares darão mais ênfase à comida real em vez de simplesmente impor limites ou proibir a ingestão de certos nutrientes”, afirmou.

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