Segue repercutindo FORTEMENTE o novo estudo publicado (prospectivo e randomizado, não observacional, não apenas de correlação), demonstrando MAIS UMA VEZ, que dietas low carb são superiores a dietas de baixa gordura tanto no que diz respeito a perda de peso quanto no que diz respeito a RISCO CARDIOVASCULAR.
Este estudo chega no momento em que a dieta de baixa gordura já está morta do ponto de vista conceitual (veja aqui, aqui, aqui e aqui), servindo de último prego no caixão da mesma.
Vou continuar a dissecar o estudo bem devagarinho, para saboreá-lo (digo, estudá-lo) aos poucos.
Já abordamos o presente estudo no que tange ao risco cardiovascular, mostrando que uma dieta com menos carboidrato e mais gordura REDUZ o risco cardiovascular de acordo com o escore de Framingham.
Hoje, vamos tratar sobre o impacto da dieta low carb versus low fat sobre a composição corporal (massa gorda versus massa magra).
Relembrando: Por 12 meses, 148 indivíduos, homens e mulheres, negros e brancos, com IMC médio de 35, foram RANDOMIZADOS em dois grupos: LOW CARB com calorias à vontade, e LOW FAT (baixa gordura), high carb.
Ok, como até as pedras já sabem, a perda de peso é maior em dietas low carb do que em dietas de baixa gordura, e este estudo randomizado não é exceção (linha contínua-> low fat; linha pontilhada-> low carb):
Porém, a perda de peso por si só não nos serve. Afinal, se você cortar uma perna, terá subitamente perdido muitos quilos, certo? O que queremos perder é GORDURA corporal. E, se possível, preservando a maior quantidade possível de massa magra (músculos, ossos) durante o processo.
A quase totalidade dos “experts”, quando questionados pela mídia, responde que dietas de baixo carboidrato levam a uma perda de peso, mas que “é tudo água”, e que perde-se músculo (pois, na sua fantasia, os aminoácidos do corpo precisam ser usados na gliconeogênese para formar glicose – esquecem-se, por algum motivo, dos aminoácidos da dieta. Isso é irônico pois, logo em seguida, criticam a dieta por ter excesso de proteínas. Se tem excesso de proteínas, porque precisaria degradar músculo?)
Veja, por exemplo, esta pérola:
“Nessa dieta, o organismo utiliza primeiro a reserva de glicose armazenada no fígado e nos músculos e depois a gordura do corpo, para produzir a energia necessária para o dia-a-dia, daí a rápida perda de massa muscular – por causa da energia roubada do organismo.” – Hã??
Ou essa:
“O corpo irá entrar em gliconeogênese usando massa muscular como fonte de energia“
Ou ainda essa:
“Além disso, antes de queimar gordura, o indivíduo vai primeiramente eliminar água e depois queimar massa muscular. A gordura é a última coisa a ser eliminada. É o que sempre acontece nas dietas restritivas.”
Por fim, essa, já comentada aqui mesmo, no blog:
“Não comer carboidrato pode levar à perda de massa magra”;“A deficiência de carboidratos (…) aumenta o catabolismo proteico, onde os indivíduos verdadeiramente perdem peso, mas muitas vezes à custa de massa muscular”
- Estas quatro citações são OPINIÕES (não trazem consigo referências bibliográficas com nível de evidência alto, ao contrário do conteúdo desse blog). Mas o que a ciência, essa Geni, tem a dizer?
Vamos ver como se saíram nossos 148 pacientes no estudo randomizado. O gráfico abaixo mostra a evolução da massa gorda no período de 12 meses. O grupo LOW CARB perdeu GORDURA neste período. Já o grupo de alto carboidrato e baixa gordura (LOW FAT), ganhou gordura! A linha vermelha marca a situação no início do estudo. Ao final de 12 meses, o grupo LOW FAT estava PIOR do que quando começou:
Hora, você perguntará, mas AMBOS grupos não perderam peso?? Então, como é possível que o grupo da pirâmide alimentar tenha GANHO gordura nesse mesmo período?? ELEMENTAR, meu caro Watson! O grupo LOW FAT, o grupo que seguiu a orientação OFICIAL recomendada para a nossa população, perdeu MASSA MAGRA:
A linha vermelha, mais uma vez, marca a situação inicial dos pacientes. Após 12 meses, o grupo LOW FAT perdeu massa magra. E o grupo LOW CARB? Devem estar numa cadeira de rodas então, pois os “experts” citados acima afirmam que “nessa dieta” o que mais se perde é músculo. Não, a massa muscular deles AUMENTOU!
“Nunca deixe que meros fatos estraguem suas teorias” — Mark Twain
Como o resultado pode parecer muito contraditório, vamos no texto do artigo original, só para sedimentar a informação:
“Compared with par-
Comparado aos participantes no grupo de dieta LOW FAT, aqueles em dieta LOW CARB tiveram maiores reduções proporcionais de massa gorda e significativo aumento proporcional de massa magra (diferenças estatisticamente significativas).
Ok, à guisa de HONESTIDADE INTELECTUAL, preciso esclarecer que o método empregado para avalizar a composição corporal neste estudo não foi o padrão-ouro (DEXA – dual x ray absorptiometry). O método empregado foi a Análise de Impedância Bioelétrica (BIA), da RJL Sytems. Embora este métodos seja graus de magnitude superior a essas pouco úteis balanças que medem a impedância pelos pés (clique aqui para ver a literatura relevante, e aqui para ver um vídeo que explica como o método é feito), ainda assim não tem o mesmo valor do que se o DEXA houvesse sido empregado.
Mas, veja bem, a bioimpedância tende a PREJUDICAR, e não a favorecer o grupo low carb de um estudo. Por quê? Porque o tecido gorduroso tem cerca de 14% de água, enquanto o músculo tem cerca de 73%. Em uma dieta low carb, é sabido há uma diminuição do glicogênio (e portanto de água) nos músculos. O que faz com que, na bioimpedância, haja aparente perda de massa muscular. Ou seja, o uso da bioimpedância nesse estudo pode ter, na verdade, mascarado uma discrepância AINDA MAIOR a favor do grupo LOW CARB no que diz respeito à preservação de massa magra.
E, obviamente, não estou apostando tudo nesse único estudo. Assim como há dezenas de estudos indicado que LOW CARB é melhor do que LOW FAT no que diz respeito a perda de peso e melhora dos parâmetros de risco cardiovascular, há também diversos estudos comprovando que LOW CARB é uma estratégia que PRESERVA a massa muscular. Vejamos:
No artigo acima (cuja íntegra encontra-se aqui), após excelente revisão da literatura (e não apenas dos caderninhos onde muitos apenas anotaram o que a “profi” disse na faculdade), o autor conclui:
“Although more long-term studies are needed before a firm conclusion can be drawn, it appears, from most literature studied, that a VLCARB is, if anything, protective against muscle protein catabolism during energy restriction, provided that it contains adequate amounts of protein.”
Ou seja: “Embora mais estudos de longo prazo sejam necessários antes que uma conclusão firme possa ser obtida, parece, a partir da maior parte da literatura revisada, que uma dieta de muito baixo carboidrato é, no mínimo, PROTETORA contra o catabolismo muscular durante restrição energética, desde que contenha quantidades adequadas de proteína”.
Vale lembrar que este estudo foi escrito em 2006, portanto OITO anos antes do atual.
Neste outro estudo, atletas de ginástica olímpica de ELITE da Itália, incluindo atletas do time olímpico nacional, foram testados com dieta normal ocidental ou dieta de muito baixo carboidrato (cetogênica). De acordo com os “experts” cuja opinião nossa mídia nacional tanto gosta de ouvir, isto deveria ser um verdadeiro desastre, afinal, estamos falando de atletas de alta performance – eles não podem perder músculo de jeito nenhum! Vamos lá:
O título do estudo já entrega o enredo! “A dieta cetogênica não afeta a performance de força em ginastas de elite”.
Mas como?? Eu ouvi o contrário da boca do Dr. fulano, naquele programa matinal da TV! Pois é… Mas ele citou os artigos originais? EU CITO. O papel aceita qualquer coisa, como o fabricante do Neve sabem bem. Mas vamos adiante:
Os atletas foram submetidos às mensurações de composição corporal antes e após 30 dias de dieta ocidental padrão (pirâmide alimentar); após 3 meses de intervalo, o mesmo processo foi repetido: mensuração, dieta cetogênica de muito baixo carboidrato, e nova mensuração 30 dias após. A rotina de treino PESADÍSSIMA foi mantida inalterada durante todo esse período (“mas como? Eu ouvi na TV que precisava glicose pra subir um lance de escadas sem desmaiar!” – Pois é, mas para treinar para uma olimpíada não precisou – acho que a TV pode não ser uma fonte confiável de informação – quem diria!). Vejamos:
No gráfico acima, as barras brancas são antes da dieta, e as pretas são após. VLCKD é dieta de muito baixo carboidrato, cetogênica, e WD é dieta ocidental (pirâmide alimentar).
Podemos observar que, nestes atletas de elite, altamente treinados e já muito magros, o peso diminuiu muito pouco (400g) com LOW CARB e nada como dieta ocidental (gráfico da esquerda, primeiras duas barras). Em compensação, a GORDURA CORPORAL caiu muito (2 Kg em 30 dias em gente já MAGRA – as duas primeiras barras da direita) com LOW CARB, e não mudou com pirâmide alimentar. Ah, sim, e a massa muscular foi perfeitamente preservada (até aumentou 300g, mas não houve significância estatística; o certo é que não houve perda de músculo). O estudo segue ainda demonstrando que não houve perda de força ou performance. Para o nosso objetivo, basta a demonstração de que low carb permite perda de gordura com preservação de massa magra.
Em resumo:
- Em pessoas obesas, uma dieta Low Carb é MUITO mais eficaz para perda de peso do que uma dieta de baixa gordura;
- Em pessoas obesas, uma dieta Low Carb induz a perda seletiva de GORDURA, ao contrário da dieta LOW FAT preconizada pelas lamentáveis diretrizes vigentes, que leva a uma perda preponderante de massa magra;
- Há inúmeros outros estudos que corroboram esta observação;
- Em atletas olímpicos de elite, uma dieta cetogênica induz perda rápida e seletiva de gordura, sem afetar massa magra, massa muscular ou mesmo performance;
- Neste último estudo, o método de aferição utilizado foi o antropométrico, e não a bioimpedância, ou seja, diferentes métodos, diferentes estudos, diferentes populações, mesma conclusão:
LOW CARB não produz perda de massa magra. Desde que mantidos um mínimo de atividade física, aporte proteico e mineral adequados, LOW CARB, ao CONTRÁRIO da restrição calórica, ajuda a perder SELETIVAMENTE gordura, preservando a massa magra.