Estudo PURE: novas evidências sobre alimentação e saúde

Semana passada, na tarde do dia 12 de fevereiro de 2017, o cardiologista Dr. Salim Yusuf, fez uma apresentação memorável em um simpósio de cardiologia em Davos, Suíça.

O Dr. Yusuf é o chefe de medicina cardiovascular na McMaster University, Canadá, e presidente da Federação Mundial de Cardiologia.

Ele é o investigador principal do maior e mais amplo estudo epidemiológico sobre as causas das doenças cardiovasculares – o PURE Study (Prospective Urban and Rural Epidemiological Study), que segue de forma prospectiva mais de 150 mil pessoas em 17 países de renda baixa, média e alta, e que está expandindo para ainda mais países e mais de 200 mil pessoas.

Com isso em mente, por favor reserve 20 minutos do seu tempo e assista à palestra do Dr. Yusuf (em inglês, por ora sem legendas):

https://www.facebook.com/emagrecerdevez/videos/1551218898229200/

  • Envie o vídeo para profissionais de saúde.
  • Se você é profissional da saúde, mande para seus colegas.

P.S.: Sim, é um estudo epidemiológico, e não um ensaio clínico randomizado. Sim, isso significa que possui todas as limitações dos estudos não randomizados. Mas vamos relembrar um ponto importante, sobre o qual já escrevi no passado:

“Quando uma coisa efetivamente CAUSA a outra, obrigatoriamente haverá também uma associação entre elas. Ou seja, a associação não implica necessariamente que haja relação de causa e efeito, mas a relação de causa e efeito, quando de fato existe, evidentemente engendra a existência de uma associação.

Corolário lógico? A ausência de associação entre variáveis, mesmo em estudo observacional, sugere fortemente a inexistência de uma relação de causa e efeito entre elas.

Entenda: correlação não implica necessariamente causalidade, mas causalidade implica necessariamente correlação. Assim, a AUSÊNCIA de correlação efetivamente REFUTA a existência de causalidade.

Em bom português: não há como gordura ser uma CAUSA de doença cardiovascular e, ao mesmo tempo, não estar associada com doença cardiovascular em dezenas de estudos epidemiológicos.”

Assim, o fato de o estudo PURE indicar uma importante associação positiva entre o consumo de carboidratos e doenças cardiovasculares bem como uma associação inversa entre o consumo de gorduras e doenças cardiovasculares não implica necessariamente que carboidratos causem doença cardíaca ou que gordura proteja contra doença cardíaca. CONTUDO, se gordura FOSSE a causa das doenças cardiovasculares, não poderia ao mesmo tempo estar INVERSAMENTE associada às mesmas. Se FOSSE saudável consumir 60% de carboidratos, se isso fosse PROTETOR contra doença cardíaca, não seria possível que o consumo de carboidratos estivesse associado a AUMENTO do risco na coorte.

Em 2017, você pode alegar que não gosta da abordagem low carb; que acha restritiva; que acha que não é sustentável. Essas são questões de opinião, e se prestam a debates bizantinos. Eu discordo, mas eu entendo. Mas, em 2017, alegar que não é eficaz (contra dezenas de ensaios clínicos randomizados) ou que não deveria ser feita em virtude do fato de reduzir os carboidratos e aumentar, proporcionalmente, as gorduras dietéticas é, oficialmente, irracional.

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