Recentemente falamos sobre a mudança de posição da Associação Americana no Diabetes, que agora considera low-carb como uma das opções padrão no manejo nutricional dessa patologia, dizendo de modo explícito que “Reduzir a quantidade total de carboidratos para indivíduos com diabetes [é a estratégia que] demonstrou a maior quantidade de evidências para a melhora da glicemia“ e que “low-carb, especialmente very low-carb, tem demostrado reduzir a hemoglobina glicada e a necessidade de medicação no diabetes. Estes padrões alimentares ESTÃO ENTRE OS MAIS ESTUDADOS NO DIABETES TIPO 2“. Se ainda não leu, leia aquela postagem.
A postagem teve imensa repercussão, tanto é verdade que o Facebook, o Instagram e Messenger censuraram o compartilhamento da mesma, sem que eu jamais tenha sido informado oficialmente sobre o motivo. Leia mais sobre isso aqui.
O site DietDoctor publicou recentemente uma notícia que vai ao encontro desta última: o governo da Autrália Ocidental – o maior dos estados australianos – acaba de produzir um documento urgindo a adoção de low-carb como uma das 3 opções principais para o manejo do diabetes tipo 2 (as demais seriam a dieta de muito baixa caloria – sobre a qual já escrevi aqui no blog – e cirurgia bariátrica):
Alguns pontos interessantes a ressaltar:
- O relatório, apresentado pelo Comitê Permanente de Educação e Saúde do Parlamento da Austrália Ocidental, também diz que a remissão, não apenas o manejo, deve ser o objetivo das intervenções de diabetes tipo 2.
- No relatório, o comitê concordou que as Diretrizes Dietéticas Australianas “não devem ser usadas para pessoas com diabetes”, acrescentando que “elas não se aplicam a pessoas com uma condição médica que precisa de aconselhamento dietético especial”. (isso é o contrário do que se costuma defender por aqui: que o diabético deveria comer a mesma “dieta saudável que todos comem”, eu usar medicação ou insulina para controlar os efeitos adversos sobre a glicemia).
- O relatório concluiu que uma dieta baixa em carboidratos é uma opção de tratamento valiosa, que deve ser oferecida a pessoas com diabetes tipo 2, devendo ser considerada para mulheres com diabetes gestacional. Os pacientes devem ter a oportunidade de evitar medicação pelo resta da vida e a piora progressiva de sua doença, mesmo se o profissional de saúde achar que o paciente não conseguirá aderir à dieta.
- O relatório enfatiza repetidamente que muitas pessoas com diabetes tipo 2 prosperam com uma dieta baixa em carboidratos e merecem ter a oportunidade de escolher a dieta ao invés de medicação como primeira linha de tratamento. O relatório transmite uma mensagem do Dr. Unwin, de que um estilo de vida low-carb não é de privação, mas de substituição, reequilíbrio e florescimento por meio de escolhas alimentares que garantam a estabilidade dos níveis de açúcar no sangue, colocando os pacientes no controle de sua condição.
Além da admissão da evidência científica, me parece que um dos pontos mais importantes deste relatório é a ênfase em não roubar das pessoas o direito de escolha. Pode ser que muitos optem por não mudar seu estilo de vida – essa não é a questão. A questão é que o conceito de direito de escolha não existe quando a informação foi sonegada. Para poder optar por não fazer low-carb, antes de mais nada você precisa saber que 1) low-carb existe e 2) low-carb pode colocar o diabetes tipo 2 em remissão. Depois disso, a escolha é sua.
Como disse Victor Hugo: “On résiste à l’invasion des armées; on ne résiste pas à l’invasion des idées.”, ou “Pode-se resistir à invasão dos exércitos, mas não se pode resistir à invasão das ideias”.
Ou, numa versão mais atualizada, resistir é inútil: