Estava folheando uma revista hoje, quando encontrei uma propaganda de página inteira do Hospital Albert Einstein sobre DIABULIMIA.
Trata-se de um transtorno de imagem corporal no qual as pacientes – meninas adolescentes portadoras de diabetes tipo I – apresentam simultaneamente anorexia nervosa.
A anorexia é a doença psiquiátrica de maior mortalidade que existe, superando de longe a depressão ou a esquizofrenia. Nesta doença, que afeta predominantemente meninas, o risco de morrer de fome é de cerca de 20%, na medida que a pessoa afetada se enxerga gorda, não importa o quão desnutrida já esteja:
Agora, imagine o que acontece quando uma menina dessas é, ao mesmo tempo, diabética tipo I? E então ela DESCOBRE aquilo que já explicamos neste blog tantas vezes, que reduzir a insulina produz emagrecimento? Elas simplesmente PARAM de usar insulina, aumentando ainda mais seu risco de vida em relação à simples anorexia, pois apresentam ainda hiperglicemia e cetoacidose diabética.
Aqui, cabe uma breve digressão. No diabetes tipo I, o pâncreas sofre um ataque autoimune e cessa completamente a produção de insulina. Isto é completamente diferente da redução da insulina que ocorre em uma dieta low carb. Quando os níveis de insulina caem a ZERO (coisa que, saliento novamente, só é possível no diabetes tipo I), a gordura é removida de dentro das células gordurosas de forma tão acelerada que provoca um acumulo de corpos cetônicos, a chamada CETOACIDOSE DIABÉTICA. Esta é uma situação patológica, que pode levar à morte, na qual os corpos cetônicos atingem níveis no sangue cerca de 8 vezes mais altos do que se consegue atingir em uma dieta cetogênica. Vou repetir, para que fique bem claro: aquelas pessoas que tentam atingir elevados níveis de cetose através de restrição severa de carboidratos atingem níveis sanguíneos de cerca de 0,5 a 3 mmol/L. Na cetoacidose, os níveis ultrapassam 25 mmol/L. Assim, é IMPOSSÍVEL uma pessoa com pâncreas funcionante desenvolver cetoacidose apenas com dieta low carb, mesmo que quisesse.
Bem, continuando. O texto abaixo, extraído do site do Hospital Albert Einstein, é fascinante pois mostra que tanto os endocrinologistas quanto as meninas doentes SABEM que a chave para a perda de peso é a redução dos níveis de insulina. Vejam só:
Diabulimia: distúrbio que pode ser fatal
Transtorno afeta pacientes com diabetes tipo 1 que deixam de tomar a insulina deliberadamente
Adolescentes do sexo feminino com diabetes tipo 1 formam o grupo de maior risco para o desenvolvimento de diabulimia, transtorno alimentar ou de imagem corporal, como a bulimia e a anorexia, porém com características relacionadas à administração da insulina. Portadoras de diabulimia aliam a rejeição aos alimentos – comum a todos os transtornos de imagem corporal – à redução ou até ao abandono do tratamento do diabetes por saberem que a perda de peso é um dos efeitos mais imediatos da falta de insulina. É mais um distúrbio que coloca a saúde em risco em nome da estética da magreza.
Um dos principais hormônios produzidos pelo corpo humano, a insulina é de vital importância para o funcionamento do organismo e para o crescimento e desenvolvimento de crianças e adolescentes. Nos portadores de diabetes tipo 1, o pâncreas é incapaz de produzir a insulina, que precisa ser suprida por meio da autoadministração.
A conduta clássica no tratamento da doença consiste em ensinar a criança ou adolescente a se medicar para que possa manter sua autonomia e independência. “O paciente recebe todas as informações relacionadas à importância de administrar corretamente a insulina, tanto no que se refere à dose certa quanto aos intervalos adequados, e é alertado sobre o que pode acontecer se não seguir à risca o esquema”, diz o Dr. Ricardo Botticini Peres, endocrinologista do Einstein.
O outro lado da informação
Com pleno conhecimento sobre o mecanismo de ação da insulina, pacientes com propensão ao distúrbio alimentar acabam tendo nas mãos um poderoso instrumento para provocar o rápido emagrecimento. Sem insulina, o corpo perde a capacidade de utilizar a glicose como fonte de energia e vai buscar essa energia na gordura. (…)
A anorexia é uma doença, e suas consequências são devastadoras. Mas a obesidade, a síndrome metabólica e o diabetes tipo II também podem ter consequências devastadoras, e são MUITO mais comuns.
A pergunta que devemos fazer é: já que todos sabemos (veja as porções marcadas em amarelo, acima) que a insulina é o hormônio chave para a regulação do tecido adiposo, por que médicos e nutricionistas ainda perdem tempo mandando as pessoas passarem fome?
Com restrição de carboidratos:
1) Já conhecemos o mecanismo hormonal (vide acima);
2) Já provamos que é eficaz;
3) Já provamos que é segura (também aqui e aqui)
O que mais falta para a sua adoção em larga escala?